Artigo

Três contribuições para a defesa da Pátria (1)

Data da publicação: 12/09/2022

Getúlio Vargas, o Estadista, não resistiu ao segundo golpe que as forças estrangeiras lhe aplicaram. Preferiu sair da vida e, efetivamente, passou a ser das mais edificantes páginas da História do Brasil.

Mas a narrativa da pedagogia colonial, naquela época a serviço do industrialismo estadunidense, tentou lhe aplicar os rótulos usuais aos estadistas latino-americanos, corrupto e ditador. Mas nenhum coube em Getúlio, como ficou demonstrado pela tristeza e pela ira popular quando souberam de seu suicídio, fazendo fugir, para manterem-se vivos, seus algozes.

E deixou o legado de uma ideologia brasileira, o nacional trabalhismo. Do discurso de 11/03/1940: “não é demais acentuar, neste momento, que o Brasil atravessa uma etapa decisiva da sua história. No campo econômico, como na vida social, atingimos a fase crítica em que se pronunciarão, definitivamente, as qualidades dominantes de nossa formação. Incumbe aos homens que governam, aos transitórios mandatários da vontade nacional, velar e lutar, constantemente, pela conservação das características fundamentais da nossa civilização. Educando, provendo as necessidades culturais do povo, incutindo-lhe no ânimo a ideia de solidariedade indestrutível em torno dos princípios que lhe norteiam a vida mental e moral, teremos feito o melhor possível pelo progresso da nacionalidade, porque, assim, fortaleceremos a sua estrutura e a sua unidade de sentimento e ação”.

Neste parágrafo estão consolidadas a solidariedade, a unidade e a cultura nacional, um robusto não às ideologias e práticas do estrangeiro, sempre invejosas das riquezas, do povo miscigenado e das dimensões do Estado Nacional.

Francisco Campos, de quem nunca se soube de tendências marxistas, ao criticar a constituição dos Estados Unidos da América (EUA), salientava sua rigidez engessadora, que não permitia governo que não tivesse a bênção dos magnatas. E escrevia no “Estado Nacional” em 10/05/1938, “um Estado em que o povo identifica a sua soberania, que não é simples mecânica do poder, mas a alma, espírito, atmosfera, ambiência, clima”, enfim como no discurso de Vargas, a cultura de uma nação.

A este nacionalismo, Getúlio colocou o trabalho como a forma de realização do homem. Não apenas o modo de ganhar o sustento, de se manter e aos seus, é também o modo de se valorizar como ser humano, criador, intérprete, doador.

O nacional trabalhismo era e é um incômodo para os entreguistas, para as mentes colonizadas, que repetem a pedagogia colonizadora dos interesses estrangeiros.

E foram estes estrangeiros, com milhares de dólares estadunidenses, regando os governos antinacionais de Magalhães Pinto, Ildo Meneghetti, Carlos Lacerda e Adhemar de Barros, com ajuda nada religiosa do Padre Peyton (Marcha da Família com Deus pela Liberdade), dos recursos marqueteiros do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), fundado em 29/11/1961 por Augusto Trajano de Azevedo Antunes (Caemi Mineração) e Antônio Gallotti (Light S.A) e do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), organização (think tank) anticomunista, fundada em maio de 1959, por Ivan Hasslocher, com Gilbert Huber Jr., Glycon de Paiva e Paulo Ayres Filho e as dondocas da CAMDE (Campanha da Mulher pela Democracia), de Amélia Molina Bastos, irmã de Antônio Mendonça Bastos, membro do Serviço Secreto do Exército, de Dona Lalá Fernandes, posteriormente processada por estelionato, que pediam a deposição do Ministro de Vargas, sendo em 1964 Presidente do Brasil, João Goulart, e que livrassem da liderança nacionalista de Leonel Brizola, construtor de 6.000 escolas públicas no Rio Grande do Sul e da encampação das empresas AMFORP e LIGHT, sonegadoras do erário e de péssimos serviços ao povo gaúcho (ver João Carlos Guaragna, “Brizola a revoada do exílio”, 1992; Osvaldo Maneschy, coordenador, “Leonel Brizola, a legalidade e outros pensamentos conclusivos”, 2011; e José Augusto Ribeiro, “O Brizola desconhecido”, 2022).

Porém o golpe de 1964 desencadeou outro golpe. Em 1967, Artur da Costa e Silva inicia um período de três governantes gaúchos que, autoritariamente, exerceram governos nacionalistas. Costa e Silva, Médici e Geisel, mesmo exorcizando Vargas, prosseguiram na construção do Brasil Soberano. E as forças estrangeiras, não mais as mesmas de 1954, nem 1964, passaram a demolir estes governos com ideais sem sustentação em projetos, como a democracia, limitada ao ritual periódico de eleições, mas sem que o povo participasse das decisões.

A pedagogia colonial que se formava então era dos capitais financeiros, a princípio das posses fundiárias, depois financiando o comércio e a gestão das dívidas, e ao fim com a inclusão de capitais marginais, aqueles que acordos internacionais e legislações nacionais classificam como crime: tráfico de drogas, contrabando de pessoas, armas, corrupção, lavagem de dinheiro etc.

Assim, o golpe de 1964 terminou melancolicamente, com o general Figueiredo sem transmitir o cargo a José Sarney, que ele considerava traidor. As finanças se empoderam e assumem o poder com a eleição de Fernando Collor. O Estado Nacional, construído por Getúlio Vargas, que sobreviveu a golpes e ditadores, começa a ruir com eleições diretas. É o triunfo do rentismo, do suborno, das chantagens e da corrupção.

Chegamos às eleições de 2022.

As Américas Central e do Sul foram colonizadas pelos mais retrógrados Impérios europeus: os Ibéricos. Tanto que logo passaram a ser efetivamente dirigidos pelos Impérios inglês, holandês e francês.

A característica dos Impérios Ibéricos era a religiosidade, a ponto de implantarem a Inquisição, que lhes levou os empreendedores e as finanças, para os Impérios acolhedores, ao norte.

Neste clima de sujeição ao catolicismo, às manifestações espiritualistas da matriz africana (o mal é o que prejudica os outros) e ao misticismo da ignorância da população quase totalmente analfabeta, o Brasil se tornou campo fértil para a pregação supersticiosa, muito mais do que religiosa.

“Nada deriva do acaso, mas tudo de uma razão e sob a necessidade”, atribui-se ao filósofo grego Leucipo (século V a.C.), explicando a necessidade da religião para manter a dominação abstrata, sem atender necessidades reais da existência física e psicológica. “Cogito ergo sum”, cartesiano, coloca a razão acima de fantasia transcendente. Voltaire, satírico iluminista, dizia que para a certeza da luz descida do alto (ideias religiosas) haveria a pluralidade de luzes que se difundiriam de pessoa para pessoa.

Assim fomos sendo formados para aceitar mais a magia do que a ciência. Na ausência de bases cognitivas o brasileiro adota o pensamento mágico.

Padre Peyton não veio solucionar qualquer problema objetivo, da seca do nordeste, das enchentes, da fome, veio expurgar o demônio do comunismo. O comunismo do mundo bipolar interessava tanto aos EUA e sua Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), quanto à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e justificava ditaduras, assassinatos, guerras, invasões por todo mundo.

No Brasil, colônia estadunidense, antes de ser colônia das finanças apátridas, o nome de Deus foi água benta a exorcizar o comunismo. Mesmo sendo os comunistas, na imensa maioria, pessoas simples, idealistas, que tinham no comunismo a mesma fé cega dos cristãos nos milagres.

Bolsonaro, em São Paulo: “Deus nunca disse para Israel ‘fica em casa que eu luto por você’. Ele sempre disse ‘vai a luta que estou com você’. Agradeço a Deus pela minha vida e também a ele que pelas mãos de 60 milhões de pessoas me colocaram nessa missão de conduzir o destino da nossa nação. Hoje nós temos um presidente da República que acredita em Deus, que respeita os seus militares, que defende a família, e deve lealdade ao seu povo. Dizer a vocês que o conforte não me atrai. Eu sempre estarei onde o povo estiver. Passamos ainda momentos difíceis. Lá atrás usei uma passagem bíblica por ocasião das eleições ‘e conhecerei a verdade e a verdade vos libertará’. Quando assumi presidência lembrei de outra passagem: ‘por falta de conhecimento meu povo pereceu’. Passei meses difíceis recebendo cobranças cada vez maiores para tomar decisões importantíssimas. Tinha que esperar um pouco mais de modo que a população aos poucos ou cada vez mais fosse se conscientizando do que é um regime ditatorial….”.

“Não temos qualquer crítica a instituições, respeitamos todas as instituições. Quando alguém do Poder Executivo começa a falhar eu converso com ele. Se ele não se enquadra, eu demito. No Legislativo, não é diferente. Quando um deputado ou senador começa a fazer algo que incomoda a todos nós, que está fora das quatro linhas, geralmente ele é submetido ao Conselho de Ética e pode perder o seu mandato. Já no nosso Supremo Tribunal Federal infelizmente isso não acontece. Temos um ministro do Supremo que ousa continuar fazendo aquilo que nós não admitimos. Logo um ministro que deveria zelar pela nossa liberdade, pela democracia, pela Constituição faz exatamente o contrário. Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair. Não podemos admitir que uma pessoa, um homem apenas turve a nossa democracia e ameace a nossa liberdade. Dizer a esse indivíduo que ele tem tempo ainda para se redimir. Tem tempo ainda para arquivar seus inquéritos” (https://www.poder360.com.br/governo).

Bolsonaro tem a orientação dos centros de pesquisa de manipulação da opinião pública que as finanças mantêm para corromper e governar o mundo globalizado, isto é, sem fronteiras identificadoras dos Estados Nacionais. A sociedade do “mercado”, onde tudo, rigorosamente tudo, a moral, a humanidade, a consciência têm preço.

Com o domínio do sistema financeiro, a Questão Nacional saiu da pauta política. Afinal uma ideologia que se pretende globalizante, não poderia conviver com ideologias nacionais. E o Dicionário da Pedagogia Colonial denomina ditador ou terrorista, pessoa ou Estado que não segue o decálogo neoliberal denominado “Consenso de Washington”. Pouco importa o que se passe nestes países, serão sempre acusados de crimes contra o “mercado” (sic).

Leonel Brizola teve sua vida várias vezes vasculhada, pelos militares e policiais durante o período do golpe de 1964, pelos comunistas e financistas após a “redemocratização” de 1988, após seus governos populares no Estado do Rio de Janeiro, e nenhuma mácula, nem uma só irregularidade, governos íntegros. O que fazer então? Apontá-lo como comunista, logo ele que sempre teve na oposição a seus governos, no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, os comunistas. Os mesmos comunistas que tentaram um golpe contra Getúlio Vargas em 1935, e pediam sua renúncia em agosto de 1954.

Vejam caros leitores, como são as narrativas da pedagogia colonial.

E vamos mais uma vez para eleições onde o tema mais importante para vida de um País, para o futuro da Nação, não é objeto de discussão, de debates, nem de discursos: a Questão Nacional.

O que vamos eleger? Pastores das igrejas da caixinha, que lavam dinheiro de drogas, que compram suntuosas mansões no exterior? De membros do Poder Executivo que nem se cobrem de vergonha ao confessar suas contas em paraísos fiscais; contas que, na melhor hipótese, representam fuga à tributação. Compras de imóveis com dinheiro em espécie, pois seus salários não seriam suficientes para adquiri-los? Mas é consequência da submissão às finanças apátridas que dirigem hoje o Brasil.

E todo esforço das gerações que nos precederam, que construíram a Petrobrás, a Eletrobrás, a Vale do Rio Doce, a Embratel, a Embraer, a previdência rural e dos empregados domésticos, estradas, portos, aeroportos, são suprimidos ou alienados, como resto de feiras, por valores ridículos para aumentar a receita dos gestores de ativos, financeiras cujos recursos alimentam os paraísos fiscais.

Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado

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