Para analisarmos fatos sociais e a sua evolução é necessário um pouco de reflexão sobre os mesmos e talvez a respostas que foram dados pelos manifestantes a tentativa de resgate pelo PSDB na manifestação em São Paulo faça mais sentido que muitos pensam.
Se analisarmos em termos da dialética Hegeliana, se não estiver errado, uma contradição a um fato não leva a um objeto vazio, ou seja a uma tese criamos uma antítese que desencadeia numa síntese, assim sendo um processo social para ser efetivo passa por estas fases, a dialética Hegeliana diferentemente da dialética de Platão ou a Aristotélica e Tomista, não procura somente ser uma técnica de investigação conjunta realizada num processo de diálogo entre interloctores, nem um mero procedimento racional não demonstrativo que serve como método investigativo. Hegel leva a dialética como um uma forma de interpretar a história, ou seja, uma explicação de como a história evolui. Segundo Hegel a dialética não serve para solucionar conflitos estaberlecidos, mas sim visualizando nestes a evolução a novas propostas.
Não vou desenvolver mais o filosófico porque simplesmente o meu conhecimento filosófico é bem limitado e sujeito a críticas, logo, passo. Vamos aos fatos.
Se a tese e antítese *(dentro do conceito Hegeliano de fatos existentes) dos movimentos de contestação dos manifestantes de ontem são que há corrupção e ela por consequência deve ser procurada a não corrupção, faltando neste caso a existência da síntese. Esta falta de uma visível síntese do processo é o que leva a desorientação da massa de manifestantes, a síntese é o grande problema.
Corrupção e não corrupção não é uma base política, os políticos do PSDB que tentaram resgatar esta manifestação e não conseguiram, sabem perfeitamente disto, porém o clima sem grande reflexão foi tão intenso e tão rápido que não permitiu que estes políticos desvirtuassem da discussão original e apresentassem como uma falsa síntese propostas que na verdade não o são a solução do processo dialético.
Para os políticos do PSDB o seguimento lógico da proposta combate a corrupção, seria a privatização das empresas públicas, porém a própria Lava a Jato tratou de desqualificar esta proposta, não diretamente, mas sim inconscientemente e de forma efetiva.
No momento que a Lava a Jato apresenta um rol imenso de capitalistas completamente e umbilicalmente vinculados a corrupção detectada na operação, ela bloqueia na mente dos manifestantes a privatização como síntese da contradição corrupção e não corrupção (claramente não o é, mas estamos falando de uma farsa e não de fatos concretos), pois a dissolução da Petrobras para a entrega ao capital nacional ou internacional é invalidada por denúncias de corrupção dessas empresas, tanto nacionais como internacionais (Petrobras e Metrô Paulista), ou seja, a troca de comando na empresa seria simplesmente a mera substituição entre corrupção pública para a corrupção privada.
Ao mesmo tempo que a troca de comando de público para privado, não representa uma solução dialética do problema (tanto real como imaginária), a troca de partidos de PT para PSDB e PMDB também é visto pela massa que contesta como uma estagnação na tese, pois eles identificam claramente estes dois partidos como partidos corruptos.
A análise de faz necessária pois para se entender os movimentos tem-se que entender a sua dialética própria e ver o que leva a contraposição entre o corrupto e o não corrupto.
Aí vem as figuras messiânicas, tais como Moro e em um plano bem mais recuado Bolsonaro.
Moro leva a vantagem sobre seus adversários na capitalização do movimento na sua aparente postura de apresentar a sua posição como a contraposição da corrupção, porém leva a desvantagem na sua incapacidade de gerar um movimento próprio que seria uma síntese a contraposição das duas ideias. Também Moro se auto desqualifica a medida que escolhe seletivamente a corrupção a ser combatida deixando os corruptos, no caso Aécio e Alckmin, totalmente fora do processo de expurgo. As propostas de Moro e seus associados do Ministério Público do Paraná, estão extremamente longe de criar um corpo teórico que sirva para derrocar a corrupção, instrumentos legais são extremamente desprezados pela maioria da população brasileira, pois qualquer um sabe que somente leis não resolvem nada.
O impasse fundamental de todos os movimentos de protesto está na tese básica da contestação, a corrupção, simplesmente porque esta não sendo uma plataforma política real, pois não tras em si a a solução do problema, tanto que qualquer pessoa, qualquer partido ou qualquer ideologia pode lutar contra a corrupção.
Talvez aí que venha a força de Bolsonaro perante Moro, a truculência, o antirrepublicanismo e mais outros qualificativos nada honrados, que pessoas racionais e humanistas possam atribuir a esta pessoa, para alguns serve como uma forma de combater a corrupção segundo a ótica dos manifestantes mais exautados, entretanto ao mesmo tempo que isto possa representar uma força deste personagem, ela é a sua fraqueza.
É fácil verificar que junto a ideologia de força de Bolsonaro vem um pacote de intolerâncias de gênero, etnia e outras, que simplesmente inviabilizam a popularização de suas ideias, tornando uma espécie de besta da apocalipse para grande parte da população.
Sugiro que aqueles que queiram entender as manifestações e seus desdobramentos que caminhem por uma direção mais consistente ideologicamente falando, pois palavras de ordem são boas para discursos em comícios e grande plateias porém nulas em termos de interpretação do que possa vir.
Publicado em 15/03/2016 em Jornal GGN.