No último dia 6 de maio, a grande brasileira Maria Augusta Tibiriça Miranda estaria completando 100 anos e a AEPET não poderia deixar de fazer uma homenagem a esta mãe e mulher engajada, tanto na área médica, onde atuava como psiquiatra, quanto nos problemas sociais, principalmente, no que diz respeito à Petrobrás. Desde muito jovem aprendeu com sua mãe, Alice Tibiriçá, a importância dos movimentos sociais e ao seu lado lutou em defesa dos direitos da mulher, sendo fundadora a Federação de Mulheres do Brasil, que promovia debates em torno de questões de interesse das mulheres e buscava mobilizá-las em defesa dos seus direitos, da proteção à infância e da paz mundial.
Em 1949, ao lado de sua mãe, também, começou a atividade pela qual se tornaria mais conhecida, como militante da Campanha “O Petróleo é nosso!”, na qual se empenhou infatigavelmente e que resultou na instituição do monopólio estatal do petróleo e na criação da Petrobrás em 1953. Nessa campanha conheceu seu marido, Henrique Miranda. Décadas depois (1982), narrou a histórica campanha com riqueza de detalhes no melhor livro já publicado sobre o assunto — “O Petróleo é nosso! Luta contra o entreguismo, pelo monopólio estatal” —, relançado em edição revista e ampliada em 2004, por ocasião dos 60 anos de criação da Petrobrás.
Nesta nova edição, distribuída gratuitamente, Maria Augusta criticou veementemente a quebra do monopólio estatal do petróleo, levada a cabo durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Finda a campanha pela criação da Petrobrás nos anos 50, militou na Liga de Emacipação Nacional até sua extinção e nunca deixou de defender a Petrobrás contra seus inimigos dentro e fora do país, razão pela qual foi reconhecida oficialmente como “madrinha da Petrobrás”. Atuou também em várias entidades médicas, entre as quais a Comissão em Defesa e pelo Desenvolvimento da Indústria Farmacêutica Nacional, ao lado do médico Mário Vítor de Assis Pacheco.
Coroando esta campanha, lançou, no início dos anos 60, pela coleção “Cadernos do Povo”, da Editora Civilização Brasileira, um pequeno, porém consistente livro intitulado “A nacionalização da indústria farmacêutica”, em que, com base em sua experiência de profissional médica, denunciou as mazelas dos cartéis dos laboratórios farmacêuticos multinacionais e defendeu sua estatização. Por causa deste livro e graças ao espírito tacanho que presidiu o golpe de 1964, que em tudo via “ameaças comunistas”, teve sua casa invadida e foi presa logo após o 1º de abril, acusada de subversão, embora jamais tivesse exercido qualquer atividade partidária.
Mesmo assim, foi arrolada no Inquérito Policial Militar-IPM, do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB, por ter feito uma palestra naquela entidade divulgando seu livro. O IPM nada comprovou contra Maria Augusta e o próprio coronel que o presidiu elogiou o livro, declarando, ao final do IPM, que “este é um livro que pode ser divulgado”. Voltaria, entretanto, a transitar pelos porões da ditadura em 1968, desta vez na tentativa de localizar e libertar seu filho Carlos Henrique (Caíque), preso incomunicável, por participar de manifestações estudantis contra a ditadura, inclusive da Passeata dos Cem Mil.
Nesta ocasião, Maria Augusta defrontou-se com o temível general Adyr Fiúza de Castro, um dos criadores do CIE e chefe do CODI do I Exercito (RJ), que, ao recebê-la teve o desplante de afirmar “Eu sou um fanático, fui educado para matar”, ao que Maria Augusta respondeu “Pois eu sou médica, fui educada para salvar vidas”. O jovem Caíque foi libertado, porém Maria Augusta passaria pelo dissabor de ver seu caçula, Betão, ser vítima da pesada conjuntura dos anos de chumbo.
Em 1989, sob a liderança de Barbosa Lima Sobrinho, presidente da ABI, uniu-se a nomes ilustres, como Euzébio Rocha (autor da lei da criação da Petrobrás), o deputado Osvaldo Lima Filho, o brigadeiro Ruy Moreira Lima, o general e escritor Nélson Werneck Sodré, o jornalista Heráclio Salles, o ex-ministro Severo Gomes, o vice-presidente Aureliano Chaves, os ex-deputados Renato Archer e Neiva Moreira (editor da revista “Cadernos do Terceiro Mundo”), para fundar o Movimento de Defesa da Economia Nacional – MODECON, que, ao lado de entidades como a Associação de Engenheiros da Petrobrás (AEPET), o Clube de Engenharia, a UNE, sindicatos e movimentos sociais, teve importante participação na campanha pelo “impeachment” do presidente Fernando Collor, cabendo a seu presidente Barbosa Lima Sobrinho, ao lado do presidente da OAB, Marcelo Lavenère, a missão de apresentar o pedido de “impeachment” no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília.
Após o falecimento de Barbosa Lima Sobrinho, em 2000, foi eleita por unanimidade para sucedê-lo na presidência do MODECON. Ao longo de toda sua vida, Maria Augusta jamais deixou de participar de atos de defesa da Petrobrás, das empresas estatais estratégicas e, ultimamente, do Pré-Sal, bem como combateu a desnacionalização de empresas como a Vale do Rio Doce, a Usiminas e a Cia. Siderúrgia Nacional.
Em 2013 aos 96 anos afasta-se de suas atividades políticas, falecendo em 07 de abril de 2015, aos 98 anos.