Dois anos após os preços do petróleo começarem a cair, os credores continuam cautelosos, apertando o acesso a financiamentos para produtores de petróleo e gás.
No segundo trimestre, as novas emissões de títulos para a indústria de petróleo e gás caíram para o nível mais baixo desde a crise financeira de 2008-2009, um sinal de que os mercados de crédito estão receosos. Entre as companhias de E&P dos EUA, a emissão foi de apenas US$ 280 milhões em títulos, de acordo com o Financial Times, o menor nível em sete anos. Além disso, os bancos só concederam US$ 10,7 bilhões em empréstimos, o mais baixo nível em dois anos e meio.
No período do boom de xisto – entre 2007 e 2014, a indústria arrecadou US$ 860 bilhões com a venda de títulos e empréstimos bancários, diz o FT. Isto porque as baixas taxas de juros levaram os credores à procura de rendimento e o crescimento explosivo da produção de xisto prometia retornos seguros. Mas a queda dos preços deixou muitos bancos no vermelho, freando a concessão de novos financiamentos.
A relutância em emitir novos títulos parece ser adequada neste momento, com os preços do petróleo girando em torno de US$ 50 por barril desde o final de junho.
Há um ano, parecia que a cotação ia se recuperar fortemente, empurrando o preço do barril acima de US$ 60. Mas os preços caíram novamente, afetando os credores. Desta vez eles parecem mais cautelosos.
Mas não significa que as companhias de petróleo e gás não estejam precisando se financiar. Muitas ainda estão gastando mais do que suas receitas. O FT observa que as maiores empresas de petróleo e gás dos EUA cortaram gastos de US$ 14,9 bilhões no primeiro trimestre deste ano. Este patamar equivale à metade dos investimentos de 2015. Ainda assim gastam mais de US$ 10 bilhões em custos operacionais. O fluxo de caixa negativo continua para o segundo trimestre, mesmo após a recuperação dos preços.
Como o The Houston Chronicle informou em meados de junho, os bancos regionais menores estão se afastando do xisto, às vezes inteiramente, apesar do otimismo entre alguns produtores com os preços do petróleo. O artigo cita um comentário de Geoff Greenwade, CEO da Green Bank, do Texas. Greenwade diz que seu banco está ficando fora de petróleo e gás para o bem, depois de perder US$10 milhões em empréstimos. “Isso vai deixar um gosto ruim em nossa boca durante anos”, disse Greenwade. “Nós não recebemos remuneração suficiente sobre esses empréstimos para assumir todo risco da commodity.”
“O crédito vai ser limitado por algum tempo,” acrescenta Paul Murphy Jr., presidente da Cadence Bank, ao Houston Chronicle. Hoje, private equity tem um apetite de risco muito maior do que alguns bancos, mas por si só não pode fornecer todo o crédito necessário para a indústria.
Até agora, pelo menos 130 empresas norte-americanas de petróleo e gás, bem como fornecedores de equipamentos, foram à falência desde que os preços do petróleo começaram a cair, há dois anos. Wells Fargo e Bank of America estão sentados em carteiras de crédito de óleo particularmente ruins – mais da metade dos empréstimos de petróleo dos dois bancos estão em perigo de inadimplência.
“Vai demorar alguns anos antes de obtermos a combinação de capital, serviços para a indústria do petróleo, o apetite e a confiança para as pessoas tornarem a fazer fortes investimentos novamente”, disse Douglas Petno, CEO do JP Morgan Chase, disse ao Houston Chronicle. Petno acrescentou que os bancos teriam feito um empréstimo de US$ 3 bilhões para uma perfuradora de petróleo em 2013, mas por causa das restrições de crédito mais apertadas, hoje um empréstimo semelhante só iria chegar a algo entre US$ 600 milhões e US$ 1 bilhão.
Os bancos não estão apenas ficando longe de emissão de novos títulos, mas também cada vez mais caminhando para descarregar alguns dos empréstimos de suas carteiras. O Bloomberg informou, em junho, que os bancos europeus, incluindo a UniCredit SpA, HSBC Holdings Plc, e ING Groep NV, venderam papéis do setor de energia ou estão ofertando a compradores. Claro que, com tantos vendedores, não há compradores suficientes a bons preços. Como resultado, os bancos estão contabilizando como perda. A Bloomberg cita o exemplo de UniCredit, que vendeu cerca de US$ 100 milhões em créditos que haviam concedido a um fornecedor de unidades de alojamento para plataformas offshore com um desconto de 55 por cento.
Assim como a indústria de petróleo e gás, os EUA amargaram um dos mais baixos níveis totais de empréstimo em muitos anos. Já os bancos europeus só emitiram cerca de US $3 bilhões em novos empréstimos desde abril, o menor total de trimestral em quase uma década, diz a Bloomberg.
Como os bancos estão se retraindo a partir da indústria, a obtenção de financiamento para novas perfurações pode ser difícil. O crédito não retornará até que os preços do petróleo voltem para níveis muito mais elevados. Sem financiamento, a perfuração não vai voltar para os níveis observados há vários anos.
FONTE: Oilprice.com