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Consultoria Deloitte, condenada por fraude nos EUA, vira um mico para a BR Distribuidora

Data da publicação: 12/12/2016
Autor(es): Kiko Nogueira

Condenada no início da semana pelo Conselho de Fiscalização da Contabilidade de Empresas de Capital Aberto (PCAOB), dos Estados Unidos, a pagar uma multa recorde de US$ 8 milhões (R$ 27 milhões ao câmbio atual) sob a acusação de falsificar relatórios envolvendo um de seus clientes locais, a empresa aérea Gol, a subsidiária brasileira da Deloitte, uma das maiores empresas de auditoria e consultoria globais, terá abalada sua reputação no mercado.

Pega em flagrante, a Delloitte admitiu ter violado padrões de controle de qualidade e não ter cooperado com a inspeção das autoridades americanas e com a investigação subsequente.

No entanto, mea culpa e imagem comprometida à parte, a empresa deverá tirar de letra a punição financeira graças a um único contrato com uma estatal brasileira. Adivinhou quem cravou a Petrobras, mais precisamente através de uma de suas subsidiárias, a Petrobras Distribuidora.

Quatro meses antes da decisão da PCAOB, em julho,  a dona da rede de postos BR, contemplou a consultoria americana com um generoso contrato, no valor de R$ 37.342,117,19. Com validade até 2020, o contrato 4600182589, subdividido em três tranches, prevê a prestação de serviços de análise de sistemas, automação, suporte técnico de engenharia e manutenção de software, entre outros.

A decisão foi tomada pelo corpo técnico da Petrobras Distribuidora à maneira das práticas consagradas no chamado Petrolão, com base na apresentação de apenas três cartas de empresas interessadas, uma delas a própria Deloitte.

No plano da reputação, definitivamente 2016 não parece ter sido um bom ano para a Deloitte. Em setembro passado, ela foi condenada  pelo Superior Tribunal de Justiça ( STJ) a pagar cerca de R$ 500 mil de indenização à Tigre Tubos e Conexões, de Joinville (SC), por ter recomendado a execução de um planejamento tributário fraudulento, que custou à empresa catarinense uma autuação no valor de R$ 38 milhões pela Receita Federal.

Conhecida por seus comerciais antológicos na televisão, como o do mico que utilizava para criticar as gambiarras na utilização de tubos e conexões da concorrência nas instalações hidráulicas, a Tigre viu as sugestões da Deloitte se transformarem num gorila, que atraiu as atenções do Leão.

Considerada evasão fiscal, a operação fraudulenta levou a Tigre a acionar a Deloitte na Justiça, culpando-a da responsabilidade pelas práticas ilícitas. Em primeira instância, a Deloitte foi condenada a pagar R$ 37,6 milhões a título de danos materiais e R$ 10 milhões por danos morais. A sentença foi reformada em 2013,  pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que determinou que a auditoria devolvesse apenas os honorários recebidos de Santa Catarina.

Mergulhada numa profunda crise, sobretudo de credibilidade, ter como fornecedor de serviços uma empresa enredada com a Justiça pode se transformar num incômodo mico para a Petrobras.

“A Aepet reitera sua posição, expressa em Carta à direção da Petrobrás, que as contratações de bens e serviços devem ser realizadas por meio de concorrência, sem a utilização das cartas convites na seleção dos fornecedores.”

Carta da AEPET 001/15

Publicado em 10/12/2016 em DCM.