A quem interessa a desestabilização política no Brasil e a desintegração da Petrobrás enquanto indutora do desenvolvimento nacional? Podemos ter mais de uma resposta para estas indagações, mas a análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (IEDI) sobre o desempenho da indústria nos últimos dois anos (período em que a maior empresa brasileira passou a ser tratada como “falida” pela mídia hegemônica, restringiu investimentos e a política de conteúdo nacional) pode ser uma importante base para reflexão.
A Petrobrás não responde por tudo o que acontece na economia, mas até pouco tempo era responsável direta por 10% de todo o investimento produtivo no país. O setor de bens de capital, já prejudicado pela política cambial suicida iniciada com o Plano Real e sua liberalização financeira, amargou perdas bem superiores à média da indústria em geral, na comparação trimestral entre 2015 e 2016.
Veja os números:
Indústria: queda de 11,4% no primeiro trimestre, -6,5% no segundo trimestre, -5,3% no terceiro trimestre e -4,4% em outubro-novembro, sempre em relação ao mesmo período de 2015;
Bens de capital: -27,9%, -9,7%, -4,9% e -4,8%, respectivamente.
Leia a seguir a íntegra do estudo do IEDI
À medida que as estatísticas sobre o desempenho da indústria no final do ano passado vão sendo divulgadas, torna-se cada vez mais claro que a moderação da crise do setor em 2016 foi bastante insuficiente. A queda da produção industrial no acumulado do ano até o mês de novembro já chega a -7,1%, um resultado apenas um pouco “menos ruim” do que o do ano completo de 2015 (-8,3%).
A bem na verdade, a indústria enfrenta fortes adversidades já há quase 6 anos. Se considerarmos o período de 2011 a 2013, na média o crescimento da produção foi praticamente nulo. Desde então, o setor viveu uma crise aberta e em trajetória de agravamento que 2016 não conseguiu reverter.
Por isso, o quadro é de frustração, ainda mais porque no primeiro semestre do ano passado havia sinais de que o pior da crise do setor já havia passado. Na primeira metade do ano, variações positivas mês após mês na série com ajuste sazonal predominavam na indústria geral e, especialmente, na de bens de capital. Com a virada do semestre, isso se perdeu e, no melhor dos casos, as trajetórias tornaram-se voláteis, alternando variações positivas e negativas, sendo as quedas de maior magnitude.
É neste contexto que deve ser vista a alta de 0,2% da indústria brasileira em novembro frente a outubro, já descontados os efeitos sazonais. Além de muito pequena, é preciso ressaltar que foi acompanhada do crescimento de apenas metade (13 de 24) dos setores pesquisados pelo IBGE, o que tira substância do resultado geral. Contudo, ainda nesta comparação, não passa despercebido o aumento de 2,5% em bens de capital, que deve ser comemorado pois vem após quatro meses de consecutivos declínios.
De fato, a redução das perdas na produção de bens de capital parece ter perdido força na segunda metade de 2016. Esse movimento fica claro na sua evolução trimestral frente a igual período do ano anterior, que se estabiliza pouco abaixo de -5,0% no terceiro trimestre e na média de outubro e novembro. Os dados a seguir ilustram os resultados trimestrais para a indústria geral e seus segmentos:
• Indústria geral: -11,4% no primeiro trimestre, -6,5% no segundo trimestre, -5,3% no terceiro trimestre e -4,4% em outubro-novembro, sempre em relação ao mesmo período de 2015;
• Bens de capital: -27,9%, -9,7%, -4,9% e -4,8%, respectivamente;
• Bens intermediários: -10,2%, -7,3%, -5,0% e -4,0%;
• Bens de consumo duráveis: -27,4%, -16,8%, -11,2%, +0,5%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -4,1%, -0,5%, -4,6% e -6,3%, nas mesmas comparações.
Note-se que no caso da indústria geral a trajetória difere um pouco da de bens de capital, pois seu ritmo de contração continuou apontando uma moderação, inclusive nos dois últimos meses (outubro e novembro), o que também ocorreu com a produção de bens intermediários, cujo peso no setor industrial é importante, e em bens de consumo duráveis.
Neste último caso, o resultado no bimestre chegou até a ser positivo, em grande medida devido à alta na fabricação de veículos no mês de novembro (+13,4% frente a nov/15) em função de uma base de comparação muito baixa. Isso significa que o sinal positivo em duráveis pode não resistir ao fechamento da média do último trimestre de 2016.
Finalmente, uma observação sobre a situação em bens de consumo semi e não duráveis, que é ainda mais complicada, posto que este segmento sofreu uma reversão de quadro no segundo semestre de 2016. O arrefecimento de suas perdas na primeira metade do ano deu lugar a um agravamento da retração no terceiro trimestre e no bimestre formado por outubro e novembro, apontando para um retorno ao nível de queda do final de 2015.
Por abrigar os setores da indústria mais empregadores e mais disseminados do ponto de vista regional, esta piora do desempenho na produção de bens semi e não duráveis é especialmente prejudicial, sobretudo para as regiões mais pobres do país.
IEDI