A notícia principal na Trumpland esta semana foi a escolha do CEO da Exxon Mobil, Rex Tillerson, para conduzir o Departamento de Estado. Tillerson provocou reações, principalmente por conta de sua estreita relação com a Rússia e o presidente Vladimir Putin. Na verdade, a ExxonMobil tem alguns grandes projetos de perfuração em jogo e poderia, possivelmente, prosseguir com um grande projeto no Ártico russo se as sanções dos EUA sobre a Rússia forem removidas, o que deve gerar alguns conflitos de interesse durante a sabatina de confirmação de Tillerson no Senado.
Embora Tillerson provavelmente vai ocupar todas as manchetes desta semana, um memorando interno da equipe de Trump vazado e pouco divulgado irá revelar-se mais digno de notícias. O Centro para a Mídia e a Democracia teve acesso a um memorando de Thomas Pyle, que foi selecionado para liderar a equipe de transição para assuntos relacionados ao Departamento de Energia. O documento, que foi escrito antes de Pyle ser nomeado para a equipe de transição, detalha alguns itens da agenda para o governo Trump, e eles marcarão uma grande diferença da era de Obama, mudando a política energética americana a longo prazo. Como Pyle agora está trabalhando com a equipe de transição do Trump, o memorando pode ser visto como um roteiro das prioridades de política energética para os próximos anos.
Alguns dos itens são previsíveis dada a clara posição de Trump sobre o apoio à exploração de petróleo e gás e sua oposição aos esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Por exemplo, o memorando de Pyle diz que Trump desistirá do Acordo Clima de Paris, “dará um reset” no Plano de Energia Limpa, além de incentivar a exploração de petróleo e gás em terras públicas.
Mas há algumas pérolas no memorando digno de nota que podem não ser imediatamente óbvio para aqueles que tentam desvendar o que a administração Trump significará para a indústria de energia (para ler o memorando completo, clique aqui). Trump pretende acelerar a aprovação dos terminais de exportação de GNL, o que é particularmente relevante porque nesta semana a FERC (a ANP americana) negou um pedido dos desenvolvedores do terminal de exportação de GNL da Jordan Cove na Costa Oeste para reexaminar seu caso. A FERC rejeitou uma licença para o mecanismo de exportação de GNL no início deste ano, com base no fato do prejuízo do projeto para os proprietários de terra superar os potenciais benefícios do projeto. O projeto teria gás natural dos EUA, provavelmente do Colorado, exportado para a Ásia.
Embora o governo Trump tenha gerado expectativa de mais terras federais para a perfuração, o memorando Pyle destacou os Mares de Chukchi e Beaufort, o Oceano Atlântico, a National Petroleum Reserve-Alaska (NPRA) e terras federais no Oeste dos Estados Unidos. A exploração do Ártico foi apenas adiada nos limites do plano quinquenal do Departamento do Interior para 2017-2022. O Atlântico também está fora dos limites para agora. E terras ocidentais podem estar na lista para o desenvolvimento nos próximos anos sob Trump; a escolha do nome de quem vai liderar o Departamento do Interior será relevante para todas estas questões.
Um movimento mais radical para desfazer a política climática dos EUA seria reconsiderar a “descoberta do risco”, que o memorando Pyle estabelece. A descoberta do risco foi a determinação da EPA (Agência Ambiental Americana) no início da administração Obama de que as emissões de gases de efeito estufa representam uma ameaça para as pessoas e foi usada como base legal para regulamentos sobre a emissão de CO2 em diversos setores, entre eles os padrões corporativos de economia de combustível para veículos de passageiros. Desfazer a descoberta do risco poderia tirar do governo federal muitas de suas ferramentas para atacar as mudanças climáticas e seria uma bênção para a indústria.
O memorando de Pyle também diz que o governo Trump vai olhar para os efeitos ambientais da energia eólica, o que significa restringir a energia eólica por causa de seus efeitos sobre as aves e animais selvagens. É curioso que a administração de repente comece a se preocupar com o meio ambiente quando se refere ao vento e não ao petróleo e gás, mas a mudança seria coerente com os esforços do governo entrante para impulsionar o combustível fóssil sobre outras formas de energia.
Num movimento que pode ser um pouco mais previsível do que o resto, dadas as declarações públicas de Trump, o memorando coloca uma prioridade na construção de mais oleodutos. Apenas alguns dias atrás, Trump disse que iria tomar uma decisão “em breve” para retomar o Keystone XL e Dakota Access Pipelines. Sua administração simplificaria, onde puder, permitindo novos projetos de gasodutos.
Para aprovar esta agenda, Trump selecionou o gabinete mais pró-indústria de qualquer administração na memória recente: Tillerson no Estado; o Procurador-Geral de Oklahoma Scott Pruitt para a EPA; Ex-governador do Texas no Departamento de Energia; e um punhado de candidatos para o importante Departamento do Interior todos apoiadores de mais desenvolvimento.
Nos últimos dias, a equipe de Trump também enviou uma carta ao Departamento de Energia, solicitando nomes de funcionários que trabalharam nas mudanças climáticas, aumentando os temores dentro da agência sobre uma caça às bruxas. Os funcionários estão preocupados com uma purga de pessoas que trabalham coma mudança climática.
Como está agora, parece que existem poucos obstáculos no caminho da maioria dos itens da agenda revelada no memorando Pyle.
Publicado em inglês em 13/12/2016 em Oilprice.com.