Má fé e manipulação de informações. Assim o economista Dércio Munhoz, da UnB, definiu, no Programa Faixa Livre desta sexta-feira (6), a forma com que as propostas ultraconservadoras do governo Temer estão sendo encaminhadas, com apoio da mídia e da maioria dos congressistas. Para ele, está sendo outra vez imposta, aceleradamente, a linha de submissão ao setor financeiro, implantada por FHC e mantida no governos do PT.
Munhoz centrou suas críticas na reforma da Previdência. “Desde FHC na Previdência o critério de tempo de serviço foi desprezado, passando a prevalecer o tempo de contribuição. Milhões de trabalhadores brasileiros foram relegados a uma aposentadoria de apenas salário mínimo. Praticamente metade deles. É a grande proposta do sistema financeiro nos anos 1990 que foi retomada”, definiu o economista, que foi presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon).
Segundo o professor, o objetivo é fazer as pessoas de maior poder aquisitivo migrarem suas poupanças para os bancos (previdência privada). “A reforma que Temer propõe aprofunda isso”, resume, acrescentando que o objetivo do governo é sepultar o espírito solidário da Constituinte de 1988, que entendeu ser a sociedade como um todo o principal agente financiador da seguridade social no país.
“Querem acabar com esse espírito e usar o dinheiro para o pagamento de juros”, alerta o economista, frisando que a verdadeira receita para tirar o país da crise é aumentar a demanda, mas o governo vem fazendo exatamente o contrário.
“Desde FHC, o câmbio vem sendo usado para segurar artificialmente a inflação. Com esse câmbio artificial a indústria é penalizada, com conseqüências negativas sobre o emprego de melhor qualidade e na arrecadação da Previdência. A recuperação do dólar começou a ajudar a indústria, mas o Banco Central já se mobiliza para acabar com isso. Isso vai reforçar o círculo vicioso que acaba na recessão”.
Segundo Munhoz, a verba que será destinada à melhoria nas condições dos presídios no Brasil equivale a apenas dois minutos do pagamento de juros da dívida pública.