Você compraria ações da Petrobrás? No último dia 22 de julho, a imprensa de um modo geral foi categórica ao afirmar que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), em movimento contrário ao que ocorria no resto do mundo em plena crise no Oriente Médio e na Ucrânia, encerrara o pregão anterior com alta de 1,09%, com máxima de 57.632 pontos, patamar mais elevado em 16 meses. A alta foi puxada pelas ações da Petrobrás, mas a explicação foi estritamente política: as pesquisas eleitorais apontavam para a possibilidade de mudança de governo no Brasil.
“As ações da Petrobrás sobem na expectativa de mudança de governo; no mês, a ação preferencial da empresa acumula ganho de 20,3% e, no ano, o avanço ultrapassa os 30%”, destacou o jornal Valor Econômico. No mesmo dia, o colunista José Paulo Kupfer intitulava seu artigo com a expressão “Fator eleitoral” para dizer, basicamente o mesmo.
No entanto, análises mais técnicas, como a do banco Goldman Sachs, registram que a Petrobrás voltou a valorizar por causa da cessão de áreas excedentes da cessão onerosa. E também devido ao fato de suas reservas estarem aumentando acima da produção, algo que não ocorre com as demais petroleiras.
Para o economista Adhemar Mineiro, do Dieese-RJ, o fator eleitoral pode induzir a uma percepção de que a mudança de governo seria melhor para a Companhia, algo que ele discorda. Indagado sobre o investimento em ações da Petrobrás, Mineiro recomenda, primeiro, checar as informações em torno da Companhia e fazer a distinção entre curto e longo prazos. “Existem informações efetivas sobre a Petrobrás, como a situação estrutural do setor de energia, que está mudando rapidamente no mundo inteiro. Mas também existe a questão eleitoral”.
Para o economista, que também é observador da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip), os especuladores aproveitam o cenário conjuntural, sobre o qual existe polêmica em torno de dados sobre reservas e preço da gasolina, entre outras, e situações estruturais, como a polêmica alternativa do gás de folhelho (xisto), a crise na Ucrânia ou no Oriente Médio. “O quadro eleitoral no Brasil será um ‘prato cheio’ para os especuladores. É preciso que as pessoas consigam identificar a perspectiva de médio e longo prazo e o processo especulativo, que permanecerá acirrado por algum tempo”.
Mineiro afirmou que compraria, sim, ações da Petrobrás, mas como investimento de longo prazo. “Ninguém deve tentar jogar de igual para igual com especuladores, que são pescadores de águas turvas”, disse, ressalvando não crer que os privatistas, antigos defensores da “Petrobrax”, tenham coragem de retomar sua pregação. “Isso já foi tentado, mas especialmente após as crises de energia de 2001-2002, eles teriam que ser muito atrevidos para voltar com esse tipo de proposta”, opinou.
Petrobrás lidera captações externas
O fato é que, influenciadas por informações de curto e longo prazos, as captações de empresas brasileiras cresceram 17,9% no primeiro semestre 2014, para R$ 138,6 bilhões, com destaque foram as emissões no exterior, que avançaram 42,8%, para R$ 72,5 bilhões, segundo a Anbima. E a Petrobrás liderou esse processo, com US$ 13,6 bilhões em duas emissões fora do país. No Brasil, em 12 meses, as ações da Companhia subiram 24,7%, antes o crescimento de 19,2% registrado no índice Bovespa, no mesmo período.
“Por fundamento, é interessante manter Petrobrás em carteira no longo prazo, com alvo na produção do pré-sal, que deve começar a se materializar em 2018, 2020”, resumiu o estrategista da SLW Corretora Pedro Galdi, em entrevista ao jornal Valor Econômico do dia 24 de julho.
Já o ex-deputado federal Ricardo Maranhão, que é conselheiro da AEPET, pondera que nos países capitalistas o mercado de ações é importante para alavancar financiamentos a custo baixo. Mas todo mercado, sobretudo os especulativos, devem ser rigidamente regulados.Ele espera que após as eleições o governo deixe de usar o preço da gasolina para tentar conter a inflação, já que esta política estaria criando problemas para o caixa da Companhia.
“A bolsa de valores pode funcionar como canal de captação de recursos para as empresas e é importante lembrar que os juros são componentes financeiros do custo das empresas, mas as bolsas não são um termômetro infalível para orientar as decisões de investimento”, argumentou.
Com relação ao componente especulativo do mercado de ações, Maranhão observa que, em grandes operações, pode-se ganhar milhões em um dia. “O especulador quer resultado de curto prazo. Muitos são contra a regulação estatal, mas nos Estados Unidos o governo se tornou sócio de empresas como a GM. Quando a presidente Dilma cai nas pesquisas e a bolsa cresce é porque persiste o dogma de que sem intervencionismo a bolsa vai funcionar melhor, o que é uma bobagem”, disse, acrescentando que o chamado livre mercado levou a economia mundial a uma crise sem precedentes.
Especificamente sobre a Petrobrás, Maranhão pondera que fatores como o nível de endividamento devem ser observados com critério técnico aguçado. “O endividamento da Petrobrás se destina a cumprir o maior plano de negócios do mundo, para construir refinarias e navios que vão permitir que a Companhia multiplique sua produção” resume. Para o conselheiro da AEPET, a sinalização do Goldman Sachs sinaliza que já não é mais possível mentir em relação à Companhia. Para ele, as grandes notícias do momento, que podem impactar o Brasil, são as mudanças que vêm ocorrendo nos grandes centros de poder mundiais, em particular após a criação do Banco dos Brics, uma sociedade entre os cinco países que tem 40% da população mundial e 20% do PIB. “Estão sendo criados mecanismos de reservas cambiais para financiar infra-estruturas inclusive em países que querem se livrar de receitas terríveis dos bancos multilaterais existentes e não pretendem entregar sua soberania. Isto é bom (a articulação dos Brics).”
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