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Presidente da AEPET analisa a questão dos custos das refinarias

Data da publicação: 07/04/2016

O Valor Econômico publicou nesta quinta-feira (7) que a Petrobrás aprovou investimento de US$ 26 bilhões em uma refinaria e em dois polos petroquímicos “sabendo que jamais dariam retorno, como comprovam relatórios sigilosos” da empresa obtidos pelo veículo. Segundo o texto, quando foram feitos os primeiros estudos de viabilidade para o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a Refinaria Abreu e Lima (Rnest) e a Petroquímica de Suape, as avaliações da Petrobrás demonstravam que todas as obras teriam retorno negativo, avaliado em US$ 3,4 bilhões na primeira análise. A matéria ressalta que o “investimento nas refinarias teve caráter de política industrial e foi pessoalmente defendido pelos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff”. O efeito final dessas obras, contudo, diz a reportagem, foi ainda mais “devastador” para a Petrobrás pois os investimentos no Comperj e na Rnest superaram em muito o planejado. Ao fim de 2014, o total gasto nos três empreendimentos passava de US$ 46 bilhões. O periódico destaca, ainda, que reportagem publicada no veículo há cerca de um ano e meio já mostrava que a diretoria da Petrobrás “havia ignorado os dados negativos da RNEST”. De acordo com a matéria, questionada sobre o assunto pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Petrobrás disse na época que a aprovação da refinaria se baseou em pareceres que mostravam valor (VPL) “”marginalmente positivo””. O relato avalia que os relatórios sigilosos obtidos agora, no entanto, contradizem a versão da Petrobrás. O Valor acrescenta que as obras do Comperj e da Rnest estiveram no epicentro da Lava Jato. Foi a partir delas que se descobriu um esquema de corrupção com suposta formação de cartel pelas empreiteiras contratadas pela Petrobrás.

A seguir, o presidente da AEPET, Felipe Coutinho, analisa a reportagem. Ouça também a entrevista de Coutinho ao programa Faixa Livre, na qual ele responde sobre o tema:

“Os resultados dos Estudos de Viabilidade Técnica e Econômica (EVTEs) dependem das premissas adotadas. Entre elas 1) o preço do petróleo 2) os preços dos derivados 3) a cotação do dólar 4) a taxa de desconto e 5) os prazos de implantação e operação.

Ninguém é capaz de prever a variação dos preços do petróleo e da cotação cambial. Ambas variáveis dependem da política monetária dos EUA, controlada pelo Banco Central (FED) que é um cartel de bancos privados. Estes banqueiros têm capacidade de manipular todos os preços cotados em dólares, na medida em que determinam a liquidez internacional da moeda, mas mesmo eles não têm total controle. Cabe destacar que estes mecanismos operam pela existência do Sistema dos Petrodólares.

Nós, petroleiros e brasileiros, não somos capazes de prever a variação futura das premissas dos EVTEs, mas podemos entender as consequências dos nossos inevitáveis erros. Estimando o petróleo mais caro, priorizamos os projetos de E&P e a geração de excedentes para a exportação de petróleo. Estimando o petróleo barato, favorecemos os projetos de refinarias, petroquímicas e fertilizantes.

Nenhum país se desenvolveu exportando petróleo através de multinacionais. Nenhum país continental e populoso, como o Brasil, se desenvolveu exportando petróleo ou outras matérias primas. Há correlação entre o crescimento econômico, o desenvolvimento humano (IDH) e o consumo per capta de energia.

O petróleo foi vendido acima dos 100 dólares o barril por apenas 3 anos e meio. Os preços atuais, da ordem de 40 dólares, são compatíveis com o preços históricos corrigidos pela inflação. Sendo assim, é preciso ficar com o Valor de Uso do petróleo e para isso é necessário estimar preços moderados para o petróleo nos nossos EVTEs e fortalecer a atuação integrada da Petrobrás. Garantir a atuação da Petrobrás desde a exploração do petróleo à produção de derivados, petroquímicos e fertilizantes, além do urgente desenvolvimento dos biocombustíveis e das energias renováveis.”


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