Primeiramente, gostaríamos de agradecer à AEPET pela oportunidade de divulgar para os empregados da Petrobrás nossas ideias, no que acreditamos que deve ser feito para ajudar a tirar a nossa empresa da difícil situação em que se encontra. Como vocês bem sabem, contamos apenas com o apoio de nossos colegas e amigos, que ajudaram muito na divulgação estritamente virtual e boca a boca. Nossa candidatura somente ganhou força porque quem nos conhece confia em nós. Não houve faixas, carro de som, panfletos impressos ou outra forma de comunicação.
De maneira impressionante, essa mobilização permitiu que fôssemos para o segundo turno. Por que isso aconteceu? Na nossa visão, isso indica que os empregados não estão satisfeitos com os erros do passado e de alguma forma querem reagir. O empregado já entendeu que não há caminho fácil daqui para frente e que vamos ter que nos unir para ajudar a nossa empresa a continuar sendo uma força econômica do país e motivo de orgulho nacional. Entretanto, isso somente é possível para uma empresa saudável. Portanto, antes de pensar em planos gigantescos, a empresa tem que ajustar sua situação financeira.
Acreditamos que a AEPET está interessada em defender o interesse dos empregados e que está se posicionando como instituição que quer promover o debate democrático. Portanto, solicitamos que publiquem essa carta integralmente, pois os problemas e a complexidade da Petrobrás são grandes demais para serem respondidas através de questões de múltipla escolha. Não vemos uma solução única para nossa empresa e precisaremos de toda a ajuda disponível.
Como empregados da Petrobrás, queremos uma Petrobrás forte, vigorosa. Atualmente, a empresa está com sua saúde financeira debilitada e precisa se recuperar. Temos que encarar nossa realidade de frente, em vez de fingir que nada está acontecendo. Nós, como empregados da Petrobrás, jamais defenderemos a desintegração da empresa. Somos técnicos, trabalhadores genuínos que ainda têm orgulho de fazer parte de uma companhia que tanto fez pelo país e tanto contribuiu para o desenvolvimento tecnológico, reconhecido por instituições internacionais. Somos reconhecidos como a empresa de excelência em águas profundas, graças ao desenvolvimento de tecnologia própria dentro do nosso CENPES. Que interesse os trabalhadores deveriam ter, além de ter uma empresa saudável, rentável, capaz de manter seus empregos, desenvolver tecnologia e contribuir para o desenvolvimento de seu país?
Sendo assim, o equacionamento financeiro da Petrobrás passa por um conjunto de soluções. E nós, trabalhadores, temos que fazer a nossa parte, evitando o desperdício, cortando custos desnecessários, otimizando os projetos, priorizando ações que permitam a elevação do fluxo de caixa da Companhia. Temos que ter empenho em fazer isso, cada um de nós!
Não queremos somente obter vantagens do Governo, onerando toda a sociedade brasileira. Mas também entendemos que dificilmente a companhia deixará de receber alguma forma de aporte de dinheiro. Deve ser avaliada a melhor forma, diante de todas as alternativas que se mostrarem possíveis, viáveis e estiverem disponíveis. A solução também passa pela renegociação de contratos e dívidas, que também devem ter sua implantação avaliada.
Vemos algumas entidades tratarem o lucro como algo perverso, quando na realidade o lucro é resultado histórico do nosso trabalho. Parte do resultado da empresa deve ser reinvestido no seu negócio, de forma a garantir o desenvolvimento tecnológico, aquisição de novas reservas e áreas exploratórias, implantação de novos projetos, garantindo a produção futura e a sustentabilidade financeira da empresa. Outra parte é distribuída na forma de lucro para todos os seus acionistas – incluindo aí a União Federal, que é a maior acionista – e nós, empregados da Petrobrás, por meio da PLR. Convém ressaltar que boa parte dos acionistas são provenientes de fundos de pensão e um deles é a nossa Petros. Sendo assim, a não remuneração adequada do capital prejudica o empregado da Petrobrás diretamente duas vezes.
Adicionalmente, é importante lembrar que os empregados da Petrobrás foram incentivados a adquirir ações da empresa no processo de capitalização de 2010. Aquelas ações, adquiridas ao preço de R$ 26,30, hoje valem cerca de R$ 4,00. Isso significa uma perda de 85% de valor. Ou seja, um trabalhador que investiu cerca de R$ 50 mil na Petrobrás naquela época, hoje tem somente cerca de R$ 7 mil. O mesmo acontece com o trabalhador que investiu seu FGTS, total ou parcialmente, na Petrobrás. Um fundo de pensão que tenha investido R$ 1 bilhão perdeu cerca de R$ 850 milhões! Qual o efeito disso sobre a aposentadoria dos trabalhadores? Algum trabalhador fica satisfeito em saber que sua aposentadoria está em risco e que suas reservas financeiras estão sendo destruídas?
Por fim, uma empresa que tem lucro paga mais impostos, gerando benefícios para toda a sociedade. É por tudo isso que não entendemos o motivo de se tentar criar essa imagem simplista de que o lucro é ruim. Entretanto, acreditamos que na atual situação financeira da empresa, é preciso resolver outras questões antes de distribuir dinheiro aos acionistas.
Outro assunto que tem trazido preocupação ao empregado é a reestruturação da companhia. Acreditamos ser necessário rever a estrutura, para que possamos ser mais eficientes. A Petrobrás deveria dar mais atenção em reduzir a estrutura onde não faz mais sentido mantê-la, como por exemplo cargos gerenciais em projetos que não estão previstos no atual Plano de Negócios.
O modelo de gestão contratual de novos empreendimentos deve ser definido de acordo com as possibilidades financeiras que a companhia tem hoje, pois não há condições de incluir novos projetos além dos que já fazem parte de nossa carteira. Um cenário de insolvência tenderá somente a favorecer os que defendem a privatização da Petrobrás e nós não queremos isso!
Temos que acabar com esse ciclo vicioso e não deixar que continuem essas terríveis condições que nos asfixiam. A melhor forma de evitar a venda da Gaspetro, da Brasken, da BR e da Transpetro é trabalhar para a diminuição de custos, parar de investir mal, reestabelecer uma politica de preço sustentável, renegociar contratos e buscar outras soluções que preservem a boa técnica e a sustentabilidade da companhia. Somente assim voltaremos a ser a Petrobrás que todos os brasileiros esperam e da qual sempre nos orgulhamos.
Acreditamos que o CENPES deve ser priorizado na nova estrutura e permanecer como instituição fundamental no desenvolvimento tecnológico da empresa, contribuindo para a Engenharia Básica de projetos e desenvolvendo pesquisas que permitam à Petrobrás se preparar para o futuro que será permeado de fontes energéticas renováveis. Assim, entendemos que todo o valor relativo à Participação Especial que a lei nos permite investir em instituições próprias deveria ser revertido ao nosso CENPES.
O processo de escolha do ouvidor geral tem que permitir que a pessoa escolhida seja uma pessoa neutra, livre da possibilidade de defender determinado grupo de interesse. A indicação pelo presidente também poderia gerar conflito de interesses, uma vez que o presidente acaba por ser um representante do acionista controlador. Este assunto precisa ser estudado e melhor discutido, para garantir o que defendemos: a total independência do ouvidor geral.
A questão sobre a publicação de salários de quem atualmente tem função gratificada denota certa tendência de divisão dos empregados. Achamos que a pergunta a ser feita seria sobre a publicação dos salários de cada um dos empregados da Petrobrás, sem exceção. Desse modo, gostaríamos de saber dos nossos colegas o que acham da publicação de seus salários.
A transparência de gastos em projetos parece ser algo bom, desde que informações estratégicas não passem para o conhecimento de terceiros, prejudicando a Petrobrás.
Como último tema, os modelos de concessão e partilha de produção são somente formas de gestão contratual, cada um com seu arcabouço regulatório. Independentemente do regime, somos contrários à obrigação de a Petrobrás participar, aportando recursos, ou mesmo operar áreas em que não tenha nenhum interesse exploratório ou que não estejam alinhados à estratégia da empresa.
Estaremos sempre dispostos a ouvir os trabalhadores por meios diretos, preferencialmente utilizando os sistemas corporativos como chave de correio e página na rede interna. Também é fundamental o diálogo com todas as associações e sindicatos. Ressaltamos que não vamos representar os interesses de nenhum grupo, mas sim os interesses dos empregados.
Desta forma, convocamos todos os colegas a participarem das eleições. Precisamos participar, acreditar e nos fazer ouvir!
Saudações,
Betania e Bonolo