A Petrobrás informou que seu Conselho de Administração, em reunião realizada na última terça-feira (20), foi aprovada a contratação da KPMG Auditores Independentes (KPMG) para prestar serviços de auditoria independente nos exercícios de 2017 a 2019, com possibilidade de renovação por mais dois anos.
“Após a assinatura do contrato, a KPMG iniciará suas atividades a partir da revisão das informações trimestrais (ITRs) do primeiro trimestre de 2017, em substituição à Pricewaterhouse Coopers Auditores Independentes – PwC”, diz o comunicado, acrescentando que a contratação da KPMG foi precedida de processo licitatório de acordo com as normas aplicáveis à Companhia.
O ramo das consultorias e auditorias é outro que chama a atenção pelo alto grau de cartelização. Uma busca rápida na internet informa que a KPMG, junto com Pricewaterhouse Coopers, Ernst & Young e Deloitte, é uma das principais envolvidas no escândalo financeiro internacional chamado Luxemburgo leaks, em que grandes empresas transnacionais evitaram o pagamento de impostos através do artifício legal chamado elisão fiscal.
A KPMG integra o grupo de empresas chamadas de Big Four, as quatro maiores empresas multinacionais do setor. As demais são Deloitte, Pricewaterhouse Coopers e Ernst & Young.
A notícia da escolha da nova auditoria coincide com matéria veiculada no jornal Financial Times e replicada no Valor Econômico desta quarta-feira (21). Veja a seguir.
Qualidade das auditorias fora dos EUA é criticada por reguladores
Por Kara Scannell | Financial Times, de Nova York
As “Quatro Grandes” firmas de auditoria mundial costumam se vangloriar sobre sua presença internacional em mais de 150 países, prometendo aos clientes a disponibilidade de seus serviços ao redor do mundo.
KPMG, Deloitte, PwC e EY, no entanto, são bem menos loquazes sobre como a qualidade da auditoria pode, às vezes, variar muito de uma região do mundo. KPMG, Deloitte, PwC e EY, no entanto, são bem menos loquazes sobre como a qualidade da auditoria pode, às vezes, variar muito de uma região do mundo para a outra, segundo críticos. Os lapsos no trabalho de uma das Quatro Grandes ganharam notoriedade recentemente quando o órgão fiscalizador do setor contábil nos Estados Unidos aplicou multa recorde de US$ 8 milhões sobre as operações da Deloitte no Brasil.
O Conselho de Supervisão da Contabilidade de Empresas de Capital Aberto (PCAOB, na sigla em inglês) concluiu que contadores no Brasil falsificaram documentos de auditoria da companhia aérea Gol, alteraram documentos e enganaram os inspetores que fiscalizavam o serviço de auditoria.
Foi a primeira vez em que o PCAOB tomou medidas contra uma afiliada das Quatro Grandes por acusações de fraude e de tentativa de acobertamento. No mesmo dia, o órgão também anunciou acordo para receber US$ 750 mil da Deloitte México depois de encontrar documentos que haviam sido alterados em seu trabalho de auditoria para a mineradora americana Southern Copper.
“Não há dúvida de que a integridade dos padrões de auditoria varia muito. São problemas reais que existem em muitas jurisdições”, disse o presidente do PCAOB, James Doty, ao “Financial Times”. À medida que o órgão passou a inspecionar mais firmas de auditoria no mundo, tomou conhecimento de casos “em que auditores avalizando o parecer fizeram poucoou nenhum trabalho”.
Parte do problema decorre do fato de que a maioria dos braços nacionais das Quatro Grandes são empresas legalmente distintas, ou seja, são afiliadas de redes internacionais, em vez de subsidiárias.
O PCAOB, contudo não vai deixar passar despercebido o problema da diferença de padrões no exterior. Claudius Modesti, diretor de fiscalização do órgão, prevê sem meias-palavras: “Você pode esperar que haverá aumento contínuo no nível das atividades de fiscalização envolvendo auditores fora dos EUA”.
As Quatro Grandes continuam a domdominar o cenário nos EUA, fazendo a auditoria das empresas de capital aberto com 99% do valor de mercado do país.
Algumas das Quatro Grandes foram empurradas para dentro de escândalos surgidos em vários cantos do planeta, desde subornos na Petrobrás e na Fifa, o órgão que comanda o futebol mundial e que tem sede fica na Suíça, até o suposto esqueesquema de lavagem de dinheiro no fundo estatal de investimentos 1Malaysian Development Berhad, da Malásia. Nenhum dos auditores, no entanto, foi acusado de qualquer irregularidade.
O caso da Deloitte brasileira foi descoberto numa inspeção do PCAOB.
Desde sua criação em 2002, depois dos escândalos contábeis da Enron e da WorldCom, o PCAOB assinoassinou acordos com outros países que lhe permitem fiscalizar as auditorias feitas por firmas locais para empresas com ações nos EUA. Todos os países, com exceção de quatro – Irlanda, Bélgica, Portugal e China – permitem que inspetores do PCAOB investiguem as firmas de auditoria registradas no órgão. “Isso vai nos permitir deixar claro para as firpara as firmas globais quais são seus pontos fracos”, diz Doty. “Há uma grande diferença, acredito, entre a firma global saber que tem um ponto fraco e a firma global saber que nós sabemos do ponto fraco.”
O PCAOB realiza inspeções regularmente nas firmas registradas que auditam empresas de capital aberto nos EUA, com base no risco, e inspeções anuais de qualquer firma registrada que audite mais de cem empresas com ações nos EUA. As conclusões variam, mas algumas são preocupantes.
Doty diz que houve casos em que até 40% dos pareceres de uma firma de auditoria inspecionados em determinado ano nunca deveriam ter sido apresentados.
“Não deveríamos estar vendo que 30% a 40% dos pareceres que encontramos não têm base ou têm base inadequada”, diz Doty. “Isso significa que uma alta porcentagem das auditorias que inspecionamos tinha sérios defeitos.”
Em novembro passado, Lewis Ferguson, membro do PCAOB, divulgou dados em um artigo opinativo mostrando que a qualidade dos trabalhos de auditoria pomostrando que a qualidade dos trabalhos de auditoria pode diferir entre as Quatro Grandes dos EUA e suas redes internacionais de firmas.
O estudo mostra que o PCAOB encontrou em 2012 “conclusões de inspeção Parte 1” em 28% dos serviços de auditoria da Deloitte para empresas de capital aberto. Uma “conclusão Parte 1” significa que a firma de auditoda Deloitte para empresas de capital aberto. Uma “conclusão Parte 1” significa que a firma de auditoria não encontrou garantias razoáveis de que as demonstrações financeiras estavam isentas de declarações inexatas. Em comparação, a percentagem nas afiliadas da Deloitte fora dos EUA foi de 67%.
APwC teve 32% nos EUA e 46% em suas afiliadas fora do país.
Na KPMG e na EY, deu-se a situação oposta. O braço da EY nos EUA teve deficiências em 53% dos trabalhos de auditoria avaliados, acima dos 43% verificados em suas afiliadas globais. A KPMG teve deficiências em 46% dos serviços de auditoria nos EUA e em 39% dos feitos por afiliadas fora do país.
“Você não deve ter operações maiores do que as operações que pode controlar”, diz Erik Gordon, professor assistente da Ross School of Business, da University of Michigan.
O histórico do PCAOB em casos contra as Quatro Grandes é pequeno. Multou a Deloitte em US$ 2 milhões em 2013, por permitir que um sócio suspenso continuasse a assessorar trabalhos de auditoria. A EY foi multada em US$ 2 milhões em 2012 por não seguir os padrões de auditoria em vários trabalhos. As afiliadas da PwC na Índia foram multadas em US$ 1,5 milhão em 2011 por não terem identificado ativos avaliados em US$ 1 bilhão a mais do que valiam na Satyam.
A Deloitte sustenta que “adotou políticas e protocolos a serem seguidos por todas as firmas integrantes para estabelecer um nível alto e homogêneo de qualidade, conduta profissional e serviço em toda a rede da Deloitte”.
“Quando essas firmas se juntam à rede da Deloitte, concordam em seguir tais políticas e protocolos, assim como operar sob um código de conduta que inclui os princípios éticos da Deloitte Global”, acrescenta a auditoria. “Todas as firmas integrantes, que são entidades independentes e legalmente separadas, também precisam cumprir todas as leis, regras e padrões profissionais aplicáveis das jurisdições nas quais operam.”
Guy Jubb, ex-chefe de governança e controle da Standard Life Investments e membro do comitê permanente do PCAOB, diz que “isso se resume à cultura e aos desafios de desenvolver e manter uma cultura comum por toda uma rede global”.
“Os reguladores deveriam passar mais tempo avaliando a governança e a cultura de uma firma de auditoria. Há mais na regulação das auditorias do que apenas inspecionar a documentação.”
“Simplesmente me pergunto se as redes das quatro grandes são grandes demais para serem governadas e se são grandes demais para quebrar. Nenhum fiscalizador de auditorias quer derrubar uma das quatro grandes”, acrescentou.
FONTE: Petrobrás