Em entrevista ao Programa Faixa Livre, o presidente da AEPET, Silvio Sinedino, reclamou da concentração dos debates pré-eleitorais em assuntos de curto prazo, em detrimento das questões estratégicas para o país. “Nesta campanha não estamos discutindo um projeto de país”, definiu.
Sinedino voltou a criticar a pressão que as grandes petroleiras multinacionais vêm fazendo para que o Brasil flexibilize sua legislação para a exploração do pré-sal. Os alvos principais têm sido as regras de conteúdo nacional e a figura da Petrobrás como operadora única daquelas reservas.
“Há muita arrogância da parte dessas empresas. O vice-presidente de uma delas chegou a desdenhar do Brasil. Então que vá investir em outros países, pois a Petrobrás sozinha dá conta de operar o petróleo brasileiro”.
Sinedino reafirmou a posição da AEPET, segundo a qual o Estado e o povo brasileiros devem ter autonomia para ditar o ritmo da exploração do pré-sal de maneira a atender o interesse do país e a capacidade de produção da indústria nacional, para fugir da chamada doença holandesa (especialização em produtos primários, sem valor agregado).
“O professor Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, tem ressaltado o exemplo da Indonésia, que vendeu todo seu petróleo a US$ 2 o barril e hoje importa a US$ 100. Não podemos voltar ao tempo de colônia. Precisamos agregar valor ao produto e, se for o caso, exportá-lo beneficiado”, disse, ponderando que atualmente o Brasil exporta minério de ferro bruto e compra trilhos da China. “O Brasil precisa de um modelo que lhe dê autonomia e desenvolvimento de tecnologia. Não podemos ser colônia dos anglo-saxões, e isso passa pela exploração inteligente de nossos recursos naturais”.
Quanto às notícias de corrupção na Petrobrás a partir do vazamento de informações do ex-diretor Paulo Roberto Costa, interessado em reduzir sua pena superior a 50 anos através de delação premiada, o presidente da AEPET informou que o Conselho de Administração, do qual é integrante eleito pelos funcionários, acatou sua proposta (e do representante dos acionistas minoritários) de incluir na pauta a cobrança de uma posição da diretoria executiva sobre o vazamento da delação premiada, “que vem jogando nomes na lama” sem provas definitivas. “A Companhia já enviou correspondência a todas as empreiteiras citadas. Se tiverem ligações com os envolvidos de fato, terão de ser excluídas das licitações”, cobrou, ressalvando que a Petrobrás não tem poder de polícia.
“A apuração do juiz Sérgio Moro parece ser competente, pois cuida de detalhes para evitar pedidos de anulação de julgamento”. Para Sinedino, este é o caminho correto. “A Petrobrás tem pequeno poder de apuração, não pode investigar emails, ligações telefônicas ou contas bancárias. Aguardamos ansiosamente as conclusões oficiais, pois os petroleiros não suportam mais ouvir insinuações. E que os corruptores, não sejam esquecidos”, resumiu.
Ouça a entrevista: Documento da AEPET à Petrobras- Shell