Começou em Paris, nesta segunda-feira, a COP21, a Cúpula da ONU sobre mudança climática, que deve durar 2 semanas.
Muitos são os desafios, muitas são as expectativas, mas também muitas são as dúvidas sobre os efeitos vinculantes desta reunião.
Os Estados Unidos e mais 18 países, inclusive o Brasil, Reino Unidos, Canadá, China e África do Sul, apresentarão uma proposta de dobrar os fundos de pesquisa sobre energia limpa, para 20 bilhões de dólares. A proposta terá apoio e fundos suplementares de bilionários norte-americanos, chineses, ingleses e outros.
Estão presentes representantes de 200 países, incluindo 130 chefes de estado. O secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, também está presente. A presidenta Dilma também está em Paris, e vai se reunir bilateralmente com outros chefes de estado, como os da Noruega, Equador, e talvez do Japão.
Os principais desafios continuam sendo:
Qual será o efeito vinculante de decisões sobre o comprometimento dos países mais ricos em diminuir suas emissões de CO2?
Idem, em ajudar os países mais pobres a reduzir suas emissões, com fundos compensatórios?
A questão do limite e do alcance destas diminuições. O alvo atual é de reduzir o aquecimento a 2 graus celsius acima das médias de temperaturas globais do período pré-intensificação da industrialização. O presidente filipino, Benigno Aquino e mais 41 países apresentarão uma proposta de baixar este limite a 1,5 grau celsius. A proposta tem o apoio, inclusive, da secretária-geral da ONU para o Quadro da Convenção sobre Mudança Climática, a diplomata costarriquenha Christiana Figueras, que é também a secretária-geral do encontro.
Houve manifestações no mundo inteiro no fim de semana sobre mudança climática. Em Paris, a realização de uma marcha pela cidade foi proibida pela polícia, tendo em vista o risco de novos atentados como o de sexta-feira 13. Houve, de qualquer modo, uma manifestação, que começou pacífica, mas terminou em confronto com a polícia. Grupos auto-intitulados anarquistas quiseram realizar a marcha de qualquer modo, houve escaramuças com bombas molotov e pedras de um lado e cassetetes, gás lacrimogênio e pimenta do outro. Os manifestantes gritavam que a França se tornara um “estado policial”.
Turquia x Rússia
É possível que haja um encontro entre os presidentes Tayyip Erdogan, da Turquia, e Vladimir Putin, da Rússia, durante a COP21, na tentativa de aparar as arestas entre os dois países depois da derrubada de um avião russo pela Força Aérea turca. A Rússia adotou uma série de sanções econômicas contra a Turquia, que compreendem a proibição de pacotes turísticos russos, o restabelecimento da necessidade de visto para turcos viajarem para a Rússia, a suspensão de projetos comuns, inclusive o de um gasoduto na Turquia, e a revisão de tarifas aduaneiras para produtos da Turquia. Esta está cada vez mais isolada devido ao incidente, depois de um momento de apoio por parte de países do Ocidente e da OTAN na ação militar turca. Ficou evidente que a ação turca foi exagerada, mesmo diante da alegação de que o seu espaço aéreo foi violado, o que a Rússia nega. De todo modo, a violação teria durado 17 segundos. Vieram à tona informes sobre incidente semelhante em 2012, quando um avião turco foi abatido em território sírio, em que tanto Erdogan quanto a OTAN consideraram que a atitude tinha sido “exagerada” diante de uma “pequena violação”. Dois outros pontos comprometeram a posição turca:
Está claro hoje que uma das principais rotas de militantes que querem ir para a Síria lutar a favor do Estado Islâmico passa pela Turquia. Eles chegam no aeroporto de Istambul, indo dali para duas cidades turcas no sul do país e dali atravessam a pé a fronteira com a Síria. Até o momento há acusações de que o governo turco não tomou medidas rigorosas para fechar esta rota, o que é pedido, inclusive, pelos EUA.
O confronto com o avião russo se deu numa conjuntura complicada para o Turquia. A Rússia vem atacando posições de guerrilheiros turcomanos na fronteira da Síria com a Turquia, e estes guerrilheiros têm o apoio de Ancara. A política externa turca na região sempre olhou como inimigos prioritários os curdos e Bashar Al Assad (de quem Erdogan já foi aliado). A pressão sobre a Turquia vai aumentar porque a participação russa, que têm, inclusive, bases na Síria, é vista como fundamental pelo Ocidente no combate ao Estado Islâmico. E os riscos de incidentes vão aumentar, com a presença em terra de tropas não só russas, mas também norte-americanas, além da presença das varias forças aéreas na região.
O caso também se complicou para Ancara com a morte do piloto russo, atingido, aparentemente, pelos guerrilheiros turcomanos, e de um membro da tripulação de um helicóptero enviado para resgata-lo. A Rússia acusa a Turquia de nada ter feito para salvar o piloto do avião abatido.
Refugiados
Com chefes de estado reunidos em Bruxelas antes da COP21, a União Europeia e a Turquia entraram em acordo sobre o financiamento pelos países de 3 bilhões de euros, em dois anos, para ajudar esta a organizar a recepção dos refugiados em seu território, cujo número é estimado em 2 milhões. A Turquia anunciou que não receberá mais refugiados, fechando sua fronteira com a Síria. Por outro lado, cansada da resistência de vários países, sobretudo, do antigo Leste Europeu, à sua proposta de estabelecer cotas vinculantes de refugiados, a chanceler Angela Merkel chamou uma “mini-cúpula” paralela de 9 países para estabelecer estas cotas, esperando que os outros sigam o exemplo posteriormente. Esta decisão abre um precedente grave, na prática rachando a U.E. em dois blocos pela primeira vez em sua história. Na Alemanha a situação dos refugiados é muito tensa, com conflitos entre eles – opondo sírios e africanos – eclodindo em vários abrigos e acampamentos. Em Berlim, no antigo aeroporto de Tempelhof, a policia fez mais de 100 prisões entre os refugiados. Cresce a oposição à política de abertura para os refugiados da chanceler, cuja popularidade atingiu o nível mais baixo de sua história no cargo.
Nigéria
No fim de semana, novo atentado do Boko Haram na cidade de Kano, no norte do pais, deixou 21 mortos.
Colorado Springs, EUA.
Na cidade de Colorado Springs, no estado do Colorado, novo ataque armado deixou 3 mortos, inclusive um policial, na clínica de Planned Parenthood, especializada em abortos terapêuticos, além de outras funções. O atirador, Robert Louis Dear, de 57 anos, foi detido. Ainda não se sabe dos motivos precisos que o levaram a atacar a clínica, que vinha recebendo ameaças desde que o aborto terapêutico foi legalizado nacionalmente pela Suprema Corte norte-americana. O presidente Obama declarou que vai intensificar a proposta de maior controle sobre a venda de armas, medida a que os republicanos se opõem.
Papa Francisco I
Nesta segunda-feira o Papa Francisco I está na República Centro-Africana, onde há um estado de guerra civil entre a minoria muçulmana e a maioria cristã. O Papa continua em sua pregação sobre o tolerância interrreligiosa, o respeito às mulheres e contra o neo-colonialismo dos países mais ricos em relação aos mais pobres. Na sua passagem pelo Quênia, antes de seguir para Uganda, o Papa fez uma apelo para que a COP21 chegue a um bom resultado sobre “a saúde” do planeta. Embora venha apontando o casamento entre pessoas de sexos diferentes como o único aceitável pela Igreja Católica, a Papa condenou a intolerância e a discriminação em relação a homossexuais e pessoas do mesmo sexo que vivam juntas, casadas ou não, como atitudes anti-cristãs.
Suíça
Numa atitude que seria cômica se não fosse trágica, a justiça suíça condenou o denunciante Hervé Falciani a 5 anos de prisão por “espionagem”. Falciani denunciou que uma agência suíça do banco HSBC, o maior da Europa, detinha bilhões de dólares em contas clandestinas de sonegadores, traficantes de armas, contrabandistas de pedras preciosas e outros criminosos. O montante das contas deste ramo do HSBC ultrapassa os 5 bilhões de dólares, e até o momento pelo menos se sabe que no mínimo 180 milhões são de fundos considerados ilegais. Acontece que a promotoria suíça aceitou o pagamento de uma multa por parte do HSBC, no valor de 43 milhões de dólares, para encerrar as investigações sobre as contas. Ou seja, protegeu a impunidade dos criminosos, e agora condenou o denunciante.
Falciani está na França, e não pode ser extraditado por ter cidadania francesa. Atualmente, além de ajudar a investigação de vários outros países sobre seus sonegadores e praticantes de outros crimes, ele ajuda o partido Podemos, da Espanha, na parte do seu programa que diz respeito ao tema.
O governo suíço, por sua vez, se recusou a cooperar com a índia, em investigação sobre seus sonegadores, alegando que as informações desta tinham sido obtidas “ilegalmente”.
Na lista do índice de corrupção da ONG Transparência Internacional, a Suíça ocupa o 5o. lugar como país menos corrupto do mundo. Convenhamos, assim é fácil ficar em 5o. lugar, não investigando criminosos, condenando quem os denuncia, e aceitando pagamento para fechar o caso. Ou a Transparência revê seus critérios, ou sua lista ficará desacreditada.
Venezuela
No domingo, 6 de dezembro, realizam-se eleições parlamentares nacionais na Venezuela. Pela primeira vez em 16 anos o governo bolivariano está sob o risco provável de perder a maioria no Parlamento. Além da oposição direitista tradicional, o número de dissidentes do “chavismo” decepcionados com o governo de Maduro aumentou, em meio a uma crise econômica provocada pela baixa do preço do petróleo no mercado internacional e uma carestia que atinge vários produtos de consumo diário.
Mídias europeias x Brasil
Continua a absoluta predominância de pautas apenas negativas sobre o Brasil em várias mídias europeias. Com a proposta de impeachment da presidenta Dilma em baixa, pelo menos momentaneamente, e com a realização da COP21, os alvos em destaque são o desmatamento da Amazonia, a suposta falta de uma política ambiental por parte do governo brasileiro, e mais recentemente a produção de laranja (o Brasil é o maior exportador de produtos relacionados do mundo), acusada de tudo, de falta de critérios ambientais a uso de trabalho escravo.
Efeméride
Na terça-feira, 01 de dezembro, comemora-se o 60o. aniversário da prisão de Rosa Parks, na cidade de Montgomery, estado do Alabama, Estados Unidos. A prisão, por desobedecer a lei municipal que discriminava negros no transporte público da cidade, obrigando-os a viajar na parte de trás dos veículos, e proibindo-os de passar à frente, mesmo se houvesse assentos vazios, deflagrou um movimento de boicote na cidade. O movimento cresceu e apesar da repressão sobre ele por parte do município e do governo do estado, não arrefeceu. Por fim, ao final do ano seguinte, 1956, depois de um longo processo, a Suprema Corte dos Estados Unidos declarou a discriminação inconstitucional. Um dos líderes do movimento foi um pastor protestante recém-chegado na cidade, e até então praticamente desconhecido, Martin Luther King.
FONTE: Carta Maior