Notícia

Derrota da direita na França e outros destaques internacionais

Data da publicação: 14/12/2015
Autor(es): Flávio Aguiar

Depois de um sucesso entusiasmante (para eles) da Frente Nacional no 1o. turno das eleições regionais na França (alem das municipalidades, dos departamentos, o país elege conselhos e presidentes para 13 regiões), a Frente Nacional de Marine Le Pen foi derrotada em todas as frentes. O partido Les Républicains, de Nicolas Sarkozy, venceu em sete regiões, o Partido Socialista, do presidente François Hollande, em cinco, e a Córsega elegeu um partido regional. A própria Le Pen foi derrotada pelo conservador Xavier Bertrand onde concorreu, em Nord-Pas-de-Calais. Entretanto a votação geral da FN foi a maior de sua história, o que a torna uma potencial presença num segundo turno de futuras eleições presidenciais.

Sarkozy poderia ser o grande vencedor deste segundo turno, mas perdeu para sua própria intransigência. A contrário do PS, que retirou seus candidatos onde visivelmente o candidato apoiado por Sarkozy tinha mais chances de barrar a FN, Sarkozy se negou a negociar. Isto o deixou numa posição de empate com o PS, pois em duas das províncias onde seus candidatos ganharam, (Nord-Pas-de-Calais e Alpes-Côte-d’Azur), sua votação dependeu da adesão dos socialistas no segundo turno. (Pela regra francesa os candidatos que obtenham pelo menos 10% dos votos no primeiro turno podem disputar um eventual segundo). Para os socialistas o resultado foi melhor do que o esperado.

COP21

O acordo sobre mudança climática fechado entre 196 países no fim de semana em Paris entra agora em fase de avaliações e comentários. Estes vão do entusiasmo eufórico ao extremo oposto de aponta-lo como um fracasso, senão uma fraude. Do lado positivo ressaltam-se:

1) o fato do acordo existir e ser vinculante;

2) o compromisso de não deixar o aquecimento passar dos 2 graus Celsius em relação a era pré-industrial, mas tendo como objetivo que passe menos de 1,5 grau;

3) a disposição de rever as medidas implementadas a cada 5 anos;

4) o fato de todos os países signatários, ricos ou pobres, se comprometerem com a redução das emissões de CO2;

5) a abertura para objetivos de longo prazo, a serem fixados no futuro;

6) o compromisso dos países mais ricos de ajudar os mais pobres nessa diminuição, embora sem compromisso com ressarcimento de perdas por parte daqueles em relação a estes;

7) o comprometimento de 100 bilhões de dólares por ano em investimentos nestes objetivos até pelo menos 2025. Os mais otimistas falam até no fim da “era dos combustíveis fósseis”. Os mais céticos dizem que nada disto é suficiente, que os aumentos de temperatura já são irreversíveis, e que sem mudanças nos padrões mundiais de produção e consumo o acordo se tornará letra morta em pouco tempo. Por seu turno, os republicanos nos EUA prometeram jogar o acordo “no lixo” assim que forem eleitos em 2016.

Houve elogios para a participação do Brasil, através da ministra do Meio-Ambiente, Izabella Teixeira, na formulação e nas negociações do acordo. O ministro de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, também foi alvo de cumprimentos e elogios.

Arábia Saudita

Nas eleições para conselhos locais no pais houve, pela primeira vez, a participação de mulheres como editoras e candidatas. Pelo menos uma, Salma bin Hizab al Oteibi, foi eleita, no conselho de Meca. As apurações prosseguem, e fala-se na possibilidade de até 19 serem eleitas. Havia 6440 candidaturas, das quais 900 eram de mulheres. O numero de eleitoras registradas é 10% do total.

Haiti/República Dominicana

3 mil refugiados se concentram num acampamento improvisado em Parc Cadeau 2, na fronteira entre os dois países. São haitianos ou descendentes de emigrantes do Haiti que se sentem ameaçados pelo governo dominicano, temendo sofrer perseguições e violências de vários tipos. Por outro lado o governo haitiano não reconhece sequer sua existência. A situação é desesperadora: há um surto de cólera entre eles, que não dispõem de água potável, medicamentos ou comida adequada.

Burundi

Um novo surto de violência irrompeu neste país centro-africano de 10,5 milhões de habitantes, um dos mais pobres do continente. Instalações militares foram atacadas por grupos armados. Já há o registro de pelo menos 87 mortes, muitas delas com indícios de terem sido execuções sumárias. Tiroteios prosseguem na capital, Bujumbura. Ninguém até o momento deu uma explicação clara para o que está acontecendo. Supõe-se que os ataques têm a ver com protestos contra a permanência do presidente Pierre Nkurunzize no poder, em seu 3o. mandato. Houve uma tentativa fracassada de depô-lo em maio, através de um golpe de estado. O pais foi alvo de uma guerra civil até 2006, que deixou 300 mil mortos. No momento há 100 mil refugiados nos países vizinhos.

Alemanha

Nesta segunda e na terça-feira realiza-se o Congresso da União Democrata Cristã, da chanceler Angela Merkel, em Karlsruhe. A crise dos refugiados estará no centro das discussões. Diante de uma forte oposição a sua política de abertura para eles, a chanceler vai tentar uma negociação, aceitando uma redução do numero previsto de refugiados que deverão entrar no pais. Merkel está com seu índice de popularidade em queda livre, ao mesmo tempo em que cresce a dos opositores aos refugiados.

Estados Unidos

O Financial Times divulgou uma pesquisa que diz ter a classe média norte-americana caído para 50% da população. No final da década de 60 este percentual era de 61%.

Organização Mundial do Comércio

A OMC realiza sua reunião ministerial em Nairobi a partir de 3a. feira. Na pauta, a eliminação de subsídios às exportações agrícolas, a transparência na evicção de policias de dumping, e a ajuda aos países em desenvolvimento para fortalecer seu setor de serviços. Está em jogo a relevância da própria OMC como fórum, cujo esforço de fortalecimento é liderado por seu diretor, o diplomata brasileiro Roberto Azevêdo, diante do crescimento de alternativas como as Parcerias Transatlântica e Transpacífica, lideradas pelos Estados Unidos para se contraporem à influência geo-econômica chinesa.

Espanha

No próximo domingo realizam-se as eleições nacionais na Espanha. Os números das pesquisas mais recentes apontam para o Partido Popular, do atual primeiro-ministro Mariano Rajoy, continuar a ser o mais votado, apesar de não obter mais a maioria absoluta que detém atualmente. Estes são os percentuais de cada um dos maiores partidos:

Partido Popular – de 23, 1 a 28,3%;

Partido Socialista – de 19,3 a 21,2%;

Podemos (de esquerda) – de 17,6 a 20,4%

Ciudadanos (de direita) – de 17,5 a 18,1%.

De todo modo, o tradicional dualismo da política nacional espanhola, entre o PP e o PSOE, será quebrada.

Gaza

Jatos israelenses vêm bombardeando a Faixa de Gaza. Durante o fim de semana não se registraram vítimas fatais.

Iêmen

O governo iemenita e os rebeldes Houthis anunciaram uma trégua de sete dias a partir desta segunda-feira à noite, com a realização de reuniões para uma tentativa de acordo na guerra que já matou 6 mil pessoas. As reuniões serão patrocinadas pela ONU. O governo tem o apoio – inclusive militar – da Arábia Saudita, que vem bombardeando posições controladas pelos Houthis no norte do pais, enquanto estes têm a apoio logístico e politico do Irã. A presença de militantes da Al Qaida e do Estado Islâmico complica a situação.

Julian Assange

O Equador e a Suécia anunciaram a assinatura de uma acordo formal para que a promotoria deste país possa ouvir Assange na embaixada daquele em Londres, onde ele está refugiado desde junho de 2012. O acordo foi assinado em Quito e as autoridades equatorianas o descreveram como um documento que prevê a cooperação geral entre os dois países no campo judiciário, inclusive em outras matérias que não têm a ver o caso Assange. Este, em todo caso, poderá ser ouvido em breve. Se depois disto a Suécia retirar o pedido de extradição junto ao Reino Unido, Assange poderia, em princípio, deixar a embaixada e seguir para onde quisesse ou pudesse.

Os coxinhas do Brasil

As visivelmente fracassadas manifestações a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff tiveram pouca repercussão na mídia mundial, quando não foram tratadas com um silêncio retumbante e ensurdecedor. Houve naturalmente imagens dos bonecos inflados de Dilma e Lula, e deu-se destaque à manifestação de São Paulo, que foi a mais concorrida, apesar da frequência ser bem menor do que nas outras ocasiões, e se confundir com a das pessoas que procuram a avenida Paulista para lazer, diante da interrupção domingueira do trânsito de veículos, promovida pela prefeitura da cidade. Assim mesmo, ganharam destaque a inclusão do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, nos gritos e cartazes de “Fora”, e a adesão do presidente da FIESP, Paulo Skaf, à tese do impeachment, em entrevista ao Estado de S. Paulo.

FONTE: Carta Maior