Artigo

O superávit no déficit

Data da publicação: 20/06/2016
Autor(es): Ronaldo Tedesco

A situação diante da crise mundial é a mesma, tanto no âmbito da União, quanto dos Estados e Municípios. Os governos apontam a existência de um déficit de arrecadação face aos compromissos tremendos que o Estado Brasileiro mantém. E desferem fortes ataques aos trabalhadores, cortando e parcelando salários, demitindo, privatizando e retirando direitos.

Ocorre que estes compromissos da União não são somente os compromissos sociais. Não são somente compromissos com a educação, a saúde, a segurança pública, a moradia, os sistemas de água, esgoto, luz etc, a maioria inclusive já privatizados. A União, e todas as demais esferas governamentais mantém desde há muito tempo um forte esquema de manutenção de superávit primário para garantia do pagamento dos compromissos financeiros gerados pelo extremo endividamento do Estado Brasileiro.

Este superávit primário deve ser mantido, em qualquer hipótese, mesmo em caso de déficit de arrecadação. É a tal lei de responsabilidade fiscal.

Com isto, e mais uma série de manobras, eles mantém satisfeitos e felizes uma dezena de banqueiros daqui e do resto do mundo, que recebem de forma garantida, pela tal Lei de Responsabilidade Fiscal, um dinheiro que nos faz uma falta tremenda.

Faz falta para pagar os salários que eles dizem não poder. Para retirar direitos que eles dizem não caber. Para garantir a previdência social que mentem ao dizer ser deficitária também. Para garantir o fornecimento de remédios e equipamentos essenciais nos tratamentos de nossos familiares e amigos adoentados. Para garantir segurança, saúde, educação, habitação e todo o resto que eles dizem ser prioridade, mas que sempre estão na bola da vez para serem mais uma vez precarizados.

Nos últimos meses o empresariado nacional se uniu com a classe média brasileira, e aproveitou-se da crise econômica e da decrepitude moral do Governo Dilma para derrubá-lo. Enquanto Dilma assegurava a remessa dos compromissos com o sistema financeiro, fazia malabarismo para apresentar uma conta que este mesmo empresariado não queria pagar. As tais pedaladas que foram evitadas com sua deposição.

Agora, à frente do Governo interino, eles vão fazer o mesmo. Entre três setores da economia – bancos, empresas e trabalhadores – somente estes últimos estão sendo chamados mais uma vez para pagar a conta de uma crise que é sua responsabilidade.

Ilusão: Será que a classe média ainda acredita que esta conta não chegará para ela também?