através de uma concessão poderosa de mídia (jornal, radio, tv), atingindo milhões de brasileiros e sem mostrar nenhum número que comprove suas afirmações, se tornam verdades no Brasil.
Um exemplo claro foi a interpretação dada pelos referidos jornalistas à estabilidade dos preços dos combustíveis praticada pela Petrobrás no mercado interno, a partir de 2011, com o exagerado aumento do preço internacional do barril de petróleo.
Miriam e Sardenberg na época bradavam “é um absurdo, estão querendo conter a inflação causando enormes prejuízos à Petrobrás”. Mas nunca mostraram como calcularam os chamados “prejuízos”.
Recentemente o atual presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, defendendo a atual política de preços de Preço de Paridade de Importação – PPI (esta sim prejudicial ao Brasil, Petrobras, acionistas e consumidores), em entrevista afirmou que o “subsidio” havia causado um “prejuízo” de US$ 40 bilhões. Mostrou um número mas sem mostrar como chegou a ele.
O que mais lamento é assistir alguns amigos afirmarem que o “subsidio” foi desastroso.
Mais uma vez vou comparar os resultados da época em pagávamos combustíveis com preços abaixo dos internacionais, beneficiando o Brasil e os brasileiros , com os atuais preços acima dos internacionais, beneficiando importadores e refinarias no exterior.
Resultados Petrobrás em US$ bilhões
Item 2011 2012 2013 Total
Lucro 20 11 11 42
Dividendos 7 9 4 20
Geração de Caixa 33 27 26 86
Item 2018 2019 2020 Total
Lucro 7 10* 0,9 17.9
Dividendos 2,9 1,9 1,4** 6,2
Geração de Caixa 26 25 28*** 7.9
* inclui o lucro da venda da TAG e BR que representa mais de 2/3 do lucro.
**pela primeira vez a Petrobrás pagou dividendo superior ao lucro.
*** leiam o artigo http://www.aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/5973-por-que-mesmo-tendo-sido-dilapidada-nos-ultimos-anos-petrobras-consegue-manter-elevada-geracao-de-caixa
Onde estão os enormes prejuízos ? Onde está a desastrosa política de “subsídios” ?
Alguns dizem “mas os lucros e a geração de caixa poderiam ter sido maiores”. Isto é mentira. Pura ilusão.
A capacidade de pagamento dos brasileiros, como de qualquer povo, tem limites Evidentemente, americanos, canadenses, europeus e japoneses, tem uma capacidade bem maior que a nossa. Mas é fundamental, no Brasil, respeitar os limites dos brasileiros.
Portanto o aumento dos preços provocaria uma redução imediata do consumo, revolta dos consumidores, e os resultados não seriam os alardeados.
É sempre bom lembrar que as agencias classificadoras de risco, Standard&Poor’s, Fitch e Moody’s, tão referenciadas por Miriam e Sardenberg, conferiram à Petrobrás o grau de investimento (Investment grade) entre 2007 e 2015, abrangendo o período em que eles espalhavam que ela estava quebrada.
Se olharmos a evolução dos preços internacionais do petróleo em reais temos o seguinte :
Data WTI US$ Cambio Valor Real Em 2021*
Dez 2010 91,80 1,67 153,31 266,74
Maio 2018 76,65 3,74 286,67 318,67
Final 2020 48,00 5,19 249,12 249,12
23-02-21 62,20 5,47 339,14 339,14
05-03-21 66,09 5,94 392,34 392,34
19-03-21 61,42 5,48 336,58 336,58
*valores levados a 2021 pela variação do IPCA
Vejam que no final de 2010, quando iniciou o chamado “subsidio” o preço (atualizados) se aproximava de R$ 300.
Em maio de 2018, quando da paralisação dos caminhoneiros, havia ultrapassado os R$ 300.
Até dezembro de 2020 os preços estavam adequados mas à partir de 2021 o aumento se tornou insustentável para os brasileiros, tendo chegado perto de R$ 400 . Portanto a “panela está para explodir”.
A Petrobrás pode e deve manter preços adequados à capacidade de pagamento dos brasileiros. Preços muito elevados são injustos e politicamente insustentáveis.
Qualquer política de preços que venha a ser introduzida tem que ter como limite superior a capacidade de pagamento dos brasileiros.
Compensações podem ser dadas à Petrobrás mas as sugestões que tenho lido não me parecem as melhores.
Por outro lado é preciso considerar também o caso inverso, em que a Petrobrás venha a adotar preços acima do internacional.
No período de 2011 até quase o final de 2014 a empresa adotou preços abaixo do internacional. À partir do final de 2014 até meados de 2016 os preços foram superiores ( e muito ) ao internacional. Isto Miriam e Sardenberg não comentaram. Fica a pergunta : qual o interesse deles em defender os preços internos elevados ? A quem querem beneficiar ?
O gráfico a seguir procura apenas ilustrar o ocorrido , já que a companhia estabilizou os preços quando o brent atingiu US$ 90 o barril (descosinderando a variação cambial). Entre 2011 e até próximo do final de 2014 o brent esteve sempre acima de US$ 90, mas à partir do final de 2014 houve uma inversão.
Portanto, se a Petrobrás tem de ser compensada pelos períodos em que cobrar preços abaixo do internacional, ela tem de ser cobrada pelo que receber com preços acima do internacional.
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Estudo elaborado pelo Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE) na época, mostra que o preço da gasolina no Brasil em fevereiro de 2016 chegou a estar 49% acima do internacional
Vendendo no mercado interno a preços superiores ao internacional e pagando royalties e participações baseados no preço internacional vigente e, ainda, sem perder substancial fatia do mercado interno para os importadores, em 2016 a Petrobrás logrou alcançar uma geração de caixa, pela primeira e única vez, superior a todas as chamadas “majors”
Geração de caixa 2016 US$ bilhões
Petrobrás Exxon Shell Chevron BP
26,10 22,10 20,62 12,90 10,69
Mas a festa durou pouco, logo os importadores começaram a se estruturar para aproveitar a oportunidade. Em meados de 2016 a perda de mercado já era de 8%, no segundo semestre passou para 18%.
Portanto a preparação para o Preço de Paridade de Importação -PPI de Pedro Parente, começou no governo Dilma.
É preciso que fique bem claro que a defesa que faço da política de preços do período 2011/2014, tem a finalidade apenas de trazer a verdade dos fatos e não de fazer defesa da administração do PT de Dilma na Petrobrás. Muito pelo contrário.
Entendo que a política de Preço de Paridade de Importação – PPI teve origem na administração Bendine assim como o chamado “desmonte” da Petrobrás, com paralisação dos investimentos, demissão em massa e venda de ativos rentáveis.
Além disto, o maior crime cometido pela administração petista foi de não ter defendido a empresa das calunias de Miriam e Sardenberg de que a companhia estava quebrada, tendo todos os números na mão. Isto jamais será perdoado.
O povo brasileiro sabe, com seu instinto, que aquele que erra e não se arrepende, nem Deus perdoa.
Cláudio da Costa Oliveira
Economista da Petrobrás aposentado