Artigo

EBC: mais que uma sigla, uma história

Data da publicação: 30/06/2016
Autor(es): Cadu Freitas

Por trás da sigla EBC, Empresa Brasil de Comunicação, existe uma história. Ela começou muito antes das manifestações de opiniões dos críticos de plantão, que, provavelmente, jamais dispensaram cinco minutos do seu tempo para assistir, ler ou ouvir a um dos veículos de comunicação da empresa. Caso contrário, como são tantos, o tal “traço” na audiência seria medido de outra forma pelo monopolista IBOPE.

Posso falar que faço parte dessa história há quase 18 anos. Comecei como estagiário, aprendendo na prática o legado de um senhor visionário chamado Roquette-Pinto, que se vivo fosse, estaria envergonhado. Afinal, ao criar a primeira emissora de rádio do Brasil e doá-la ao governo, queria promover educação cidadã para construir país com mais igualdade por meio do rádio.

De lá pra cá, foram mudanças em siglas a cada novo governo. Até aí, podem criticar à vontade, pois a tinta da caneta é forte nesse sentido. Mas os ideais da comunicação pública têm demonstrado ganhar força com o trabalho, resistência, erros e acertos de profissionais que atuam em todas as áreas das emissoras, da agora “mais conhecida” EBC. E tudo isso movido pela paixão por programação que fica longe de conteúdos que apenas visam atrair anunciantes e produtos pouco educativos.

Bem, prefiro me prender ao que conheço de perto, o rádio. E deixo aos meus colegas dos outros veículos da empresa o desafio de mostrar que damos audiência, sim, que trabalhamos, sim! Há um time excelente atuando na TV Brasil, antiga TVE, na Agência Brasil, portal, redes sociais e o mais importante: fazendo interlocução com o ouvinte, telespectador e sociedade civil, que ainda têm espaço para opinar de forma ampla, plural e sem a pressa dos cortes de linhas editoriais travadas por compromissos comerciais.

E por falar em rádio, desafio a pesquisarem os protagonistas sociais que ajudaram a manter vivas até hoje as oito emissoras que fazem parte, repito, apenas de uma sigla – EBC. Não cometeria o equívoco de tentar citar todos, mas tem uma senhora em especial: já ouviram falar em Dona Fernanda? Sim, Dona Fernanda Montenegro. Assim como tantos outros formadores de opinião do bem, ela já admitiu, publicamente, sua extrema gratidão pela Rádio MEC, onde começou a carreira. Pois é, temos história viva pra nos orgulhar.

E por falar em orgulho, faço parte do quadro de uma das emissoras da EBC, como profissional contratado por notório saber e credibilidade entre centenas de fontes de intelectuais, instituições, governos, sociedade civil e, claro, o objetivo de tudo, os ouvintes. Vale um registro: para permanecer no projeto que criou a EBC abri mão de anos de direitos trabalhistas na empresa antecessora (ACERP) por opção própria e, por acreditar ser um dos defensores da comunicação pública de fato e de direito. Pago impostos da minha empresa, portanto, ajudo e faço parte do empenho do dinheiro público, isso é fato.

Certas notícias e artigos em veículos fora do “traço” questionaram os gastos ou investimentos nos veículos de comunicação da EBC – aliás, dois deles completam 80 anos em 2016 – Rádio MEC AM e Rádio Nacional. Tem uma situação que me deixa um tanto desconfiado dos críticos que surgem a cada dia. No tal modelo “meu pirão primeiro”, ousaria pesquisar se alguns deles tentaram emplacar programas dentro de uma das emissoras, sem sucesso. Aí meus amigos e amigas, entra tudo num contexto perigoso que é transformar opinião pessoal em interesse pessoal.

Estamos vivos sim. Nossas emissoras falam para público que pensa fora da caixinha, entende as limitações técnicas, criticam conteúdos equivocados, elogiam a programação diversa. Somos avaliados por eles através de ouvidoria altamente exigente.

Há erros sim, mas acusar de forma generalizada é um risco. Sejamos ponderados. E se alguém avalia o nosso trabalho como desperdício de dinheiro público, de forma política, individual e rasteira poderia ouvir e divulgar ainda mais os conteúdos produzidos. Quem sabe assim saímos do tal “traço”. Afinal, isso acontece também em outras emissoras comerciais. Mas neste caso, o “traço” ou a falta de audiência demite bons profissionais por não obter lucro.

Mas há uma coisa boa nisso tudo. A “tal” sigla EBC pode até mudar mais uma vez, de novo, novamente, mas o projeto, os veículos e os ideais, esses sim, têm história e não morrerão jamais!

FONTE: Portal Comunique-se