Artigo

Mergulho para a morte

Data da publicação: 13/09/2010
Autor(es): Emanuel Cancella

Com a descoberta do pré-sal o uso da atividade do mergulho se intensifica. Essas imensas reservas de petróleo se localizam no mar e os mergulhadores são fundamentais. A Petrobrás utiliza mais de 90% da atividade de mergulho e de forma irresponsável, terceiriza totalmente a atividade. Jovens brasileiros na maioria dos casos sem informação ingressam na segunda profissão mais perigosa do planeta. A profissão mais perigosa é a de astronauta.

O mergulhador em termo de risco de morte na atividade se compara ao astronauta. Porém, no quesito sequela adquirida durante a vida laboral supera em muito o astronauta. A vida útil de um mergulhador é de 15 anos, pois se muitos astronautas sobrevivem ao tempo de trabalho saudáveis, no mergulho a doença é inexorável. E não estamos falando de doenças corriqueiras, estamos falando de doenças que impossibilitam o exercício de qualquer outra a atividade. O número de óbitos entre os mergulhadores é alarmante. Dados de 1998 na Bacia de Campos, em 22 anos, 155 mergulhadores acidentaram-se. Trinta morreram e dezessete foram afastados permanentemente da atividade.

Esse índice é muito alto considerando que o efetivo do mergulho era de menos de 300 trabalhadores. Hoje em função da descoberta do pré-sal e da intensificação da pesquisa, exploração e produção de petróleo no mar são milhares de mergulhadores em ação. O mergulho exige quarentena antes e depois de cada mergulho sendo a desobediência a esse procedimento fatal.

Mesmo seguindo a risca os procedimentos da Organização Mundial de Saúde e das NR do Ministério do trabalho os problemas persistem. O que agrava ainda mais a situação é que a Petrobrás contrata através de terceiros essa mão de obra, lavando as mãos, tirando de si a responsabilidade. O principal objetivo dessas empreiteiras é obter lucro, pouco se lixando para a vida do mergulhador.

Denúncia como essa e outras são consideradas ofensivas ao Código de Ética da Petrobrás só quem pode falar são os gerentes indicados pela empresa. Por contrariar essa orientação vários companheiros têm sido punidos o que agrava ainda mais a situação. Repetimos, a direção da Petrobrás utiliza mais de 90% da atividade de mergulho no Brasil. Delegar para terceiros essa atividade é uma atitude de quem se arvora ter responsabilidade social?

Emanuel Cancella é Diretor do Sindipetro-RJ