A partir dos anos 2000, a forte retomada dos investimentos das indústrias naval, offshore e de navipeças, para exemplificar apenas um dos setores beneficiados pelas políticas de conteúdo nacional, trouxe impactos importantes sobre a economia brasileira: forte geração de emprego e renda; desenvolvimento de uma rede de fornecedores nacionais de insumos, peças e componentes; oportunidades para a expansão de processos de inovação e de novas tecnologias em produtos e processos; desenvolvimento e expansão do segmento de produção de plataformas de exploração e produção de petróleo e de gás offshore; implementação e ampliação de serviços de cabotagem de óleo bruto e derivados; aumento da capacidade de conquista de mercados externos; e efeitos significativos sobre a formação bruta de capital fixo, entre outros.
Tais políticas nada têm de radicais e há muitas práticas similares, por exemplo, nos Estados Unidos, em que as compras governamentais privilegiam as encomendas a pequenos e médios produtores locais, mesmo que os preços a princípio não sejam competitivos.
Causa estranheza a omissão de governadores e prefeitos na defesa de tais políticas
No Brasil, em pouco mais de uma década, os dados comprovam os avanços causados pelas encomendas, pela Petrobras, de navios e plataformas a estaleiros nacionais: o número de profissionais trabalhando em estaleiros saltou de 7.465 para 78.706, concomitante com o desenvolvimento da capacitação necessária para a produção dessa riqueza, gerando tecnologia e empregos de qualidade.
Tal impacto, que mobilizou cerca de R$ 150 bilhões em investimentos em um país que amarga sucessivas décadas perdidas em termos de desenvolvimento, não se restringiu a uma determinada região do Brasil. Ao contrário, o efeito positivo das políticas de conteúdo nacional se espalha por estados e municípios. Nesse contexto, causa estranheza a omissão de governadores e prefeitos na defesa de tais políticas, que hoje se veem ameaçadas pela onda privatizante que está levando à desintegração da Petrobras e seu alijamento da exploração do pré-sal sob o inconsistente argumento de que a companhia precisa vender ativos para fazer frente ao elevado grau de endividamento do qual seria vítima.
A experiência recente mostra que as petroleiras internacionais que atuam no Brasil procuram evitar o conteúdo nacional, inclusive preferindo o pagamento de multas, quando não conseguem sua dispensa. Com a retirada da salvaguarda para o país da Petrobras como Operadora Única do Pré-Sal, isso deverá se agravar sobremaneira.
Que articulações políticas poderiam estar acima do interesse dos governantes pela geração de empregos e renda nos locais que os elegeram? Neste momento em que enfrentamos uma recessão sem precedentes e vivemos um cenário de instabilidade política interna e no plano internacional, faz-se necessária a união em torno de medidas capazes de preservar, mesmo que parcialmente, o Brasil e sua economia da onda desindustrializante que estamos sofrendo nas últimas décadas.
Como mostram os resultados das eleições mundo afora, está sendo colocado em xeque um processo de globalização econômica que na verdade só permitiu a livre circulação do capital e das mercadorias, mantendo as restrições para todos os trabalhadores do mundo, que se veem cada vez mais limitados na busca por uma sobrevivência digna.
A exigência de conteúdo nacional é a garantia de geração de riquezas, empregos e impostos no Brasil e para os brasileiros. É, pois, muito importante que governadores, prefeitos e lideranças econômicas atuem junto aos órgãos de controle para que isso não seja perdido.