Artigo

Desnacionalizando o Brasil

Data da publicação: 25/08/2020
Autor(es): Raul Bergmann

o Brasil está abrindo mão de sua autonomia como nação independente, soberana, e da qualidade de vida para sua população.

O patrimônio de um país é tudo o que está em seu território e, em alguns casos, em outros países. Isto implica o que está no sub-solo, no solo e acima do solo.

No sub-solo, o minério já é explorado por estrangeiros, com ínfima contribuição para o País. Metade da produção do petróleo descoberto pela Petrobras já foi entregue. A água dos aquíferos, o petróleo do futuro, altamente cobiçadas para desnacionalização.

No solo, a agropecuária pode fazer do Brasil a maior potência mundial do setor. Mas os insumos mais importantes, fertilizantes, defensivos e maquinaria, são importados, e a pouca produção nacional está sendo desativada ou entregue, nos colocando outra vez a mercê de interesses externos.

Acima do solo, temos as indústrias, a economia em geral, e, principalmente as pessoas. Com a queda da participação da indústria no PIB, de 30% para apenas 10%, nos tornamos cativos de importações e exportadores de empregos, restando para nós brasileiros o trabalho precário, sem maior especialização.

A maior parte da renda com nossas exportações, com predominância de insumos básicos, que vai sustentar essa dependência, são controlados por multinacionais que monopolizam sua exploração, logística e preços. Portanto nossa sustentabilidade ficará a seu critério.

Das estatais promotoras do desenvolvimento, praticamente faltam partes da Petrobrás e Eletrobras. No caso da Petrobrás já foram entregues gasodutos, campos de petróleo, a BR Distribuidora, a Liquigás. Metade da área de refino está se encaminhando para ser desnacionalizada, com formação de monopólios regionais estrangeiro dos combustíveis. Além disso ela também foi saída das essenciais produções de petroquímicos, biocombustíveis e fertilizantes, que estão ficando sob controle externo.

Com a venda das estatais de eletricidade, esse essencial insumo para a nossa vida e indústria, está se encaminhando também para a formação de monopólios privados regionais, sem controle do estado.

A indústria farmacêutica nacional já foi destruída, até para medicamentos com patente vencida. Não fosse o SUS, na área da saúde, somente a doença continuaria nacional.

As telecomunicações já foram entregues para o exterior no período FHC, e estamos pagando caro por isso, com tarifas das maiores do mundo e campeões de ações judiciais por maus serviços.

Com isso nos tornamos reféns desses interesses externos, que praticarão preços internacionais para uma população de baixo poder aquisitivo e em queda, levando os lucros obtido da Sociedade brasileira para o exterior, em dólares, sem limite e isentos de impostos.

Fica fácil entender que dificilmente reinvestirão esses lucros no País, pois jamais terão interesse em propiciar o desenvolvimento de um concorrente internacional, em abrir mão de um mercado brasileiro cativo e do poder geopolítico representado por essa nossa dependência.

São 40 anos de desindustrialização e desnacionalização, período que coincide com a predominância do rentismo e da valorização das importações sobre a produção nacional.

Nesse processo todo foi gerado um País estrangulado por uma elevadíssima dívida nacional, uma Sociedade endividada, com alta taxa de desemprego e baixíssimo nível de investimento e crescimento do PIB.

Estamos vivendo as maiores crises de saúde, econômica e política de nossa história, sem que se vislumbre um Projeto de Desenvolvimento Nacional, como foi feito no período 1930 – 80, em que tivemos um crescimento do PIB superior ao da China atual.

Somente com a integração de nossas forças políticas, econômicas e sociais em torno daquilo que nos une, e não gastando energia no que nos separa, poderemos construir um Projeto de Nação que queremos para nós e as futuras gerações, propiciando um desenvolvimento sustentado do País e o empoderamento e uma qualidade de vida digna para toda a população.

Atualmente estamos entregando a galinha dos ovos de ouro e os ovos também.

Eng. Raul Tadeu Bergmann –
Conselheiro da AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobras

Acessar publicação original:

aepet.org.br