“Ah, esse custo Brasil. Está matando a agricultura”. Ouve-se muito, não? É uma das músicas mais tocadas nos shows da banda “Ronaldo Caiado e seus Berrantes”. Ainda mais quando o poder político está sendo disputado a golpes de votos dentro do Congresso e não da população brasileira.
“Mas você não concorda que existem grandes entraves de legislação e infraestrutura para a agropecuária deslanchar?”, certamente me perguntarão nas redes sociais. Isto, os mais educados. Os demais virão com pés em meu peito. Sei evitá-los. Estão inundados de micoses.
Aos primeiros, costumo responder. Não, contudo, jogando todas as distorções nas costas do investimento público em décadas de governos. Meto aí nesse saco de maldades também a iniciativa privada, geralmente distraída para colocar recursos de retorno em longo prazo.
Não é essa, no entanto, a discussão na coluna de hoje. Na semana passada, citei vários movimentos de aquisições e fusõesentre fabricantes de insumos agrícolas que certamente afetarão de forma negativa o agricultor brasileiro.
Rumores indicam a breve venda dos ativos da Vale em fertilizantes para a norte-americana Mosaic. Perto do que acontece lá fora, é coisa pouca, entre R$ 2 e 3 bilhões, mas relevante para o consumidor de potássio, sobretudo do Nordeste.
Mas ainda não está aí o foco principal desta coluna, penalizado que estou com os plantadores de soja e milho dos Estados Unidos. Os estados de Ohio, Wisconsin, Indiana, e outros do Corn Belt, estão revoltados. Não sei se a baba irá cair no colo de Hillary Clinton ou Donald Trump. Mas é grossa.
Caso é o seguinte: nos EUA, dólar é dólar, juros e inflação baixos são reais; no Brasil, reais são apenas o nome da moeda e a coroa de Momo. Sim, evitei a letra erre, mas cabia.
Há 20 anos, a Monsanto introduziu na agricultura norte-americana as sementes transgênicas. A invenção começou para evitar a broca do milho, seguiu para resistir aos mais fortes herbicidas, até chegar à diminuição do stress hídrico. Convenceu. Atualmente mais de 90% do plantio de soja e milho são feitos com elas. Lá e no Brasil.
O busílis: nesse período, o custo das sementes transgênicas de soja subiu 305% e o custo por hectare plantado com a cultura atingiu US$ 150,40. As informações vêm do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA).
Fato é que o mesmo não aconteceu com as cotações dos grãos, há três anos em queda. Mesmo com a produção maior dos últimos dois anos, a perda de receita dos agricultores americanos, em relação ao pico entre 2011/12, é estimada em 40%.
Como então aguentar os preços das sementes? Simples, aguentando. São poucas as alternativas. Não fosse assim, a Bayer alemã não estaria comprando a norte-americana Monsanto.
O diretor-presidente da empresa alemã, Werner Baumann, declara apostar na biotecnologia e a justifica com a estimativa da ONU de que, em 2050, o planeta estará com 9,7 bilhões de pessoas que não terão perdido o hábito da alimentação. Um sábio. Gente que enxerga longe.
E no Brasil? Até aonde se enxerga?
Depende de quem olha pela mira. Se a Bayer acertará o centro do alvo, pois se tornará a líder em insumos no país, com participação de 22% no mercado.
Se os agricultores brasileiros, lerão no alvo dísticos da concentração na produção de insumos, preços cartelizados, desnacionalização da economia, e o câmbio incerto a influir nos custos de produção e preços de comercialização. Espingardas tico-tico não costumam ser eficientes para acertarem esses alvos.
Ah, desculpem-me, e o custo Brasil. Se não o lembrasse os confederados caiados não me perdoariam. Alguns podem estar pensando, “bem, então, agora é cinzas, tudo acabado e nada mais”.
Téquinão.
Apesar de algumas adversidades climáticas, com influência negativa na colheita de certos produtos, a queda no valor bruto da produção brasileira, em 2016, não ultrapassará 2,5% (grato, donas Dilma e Kátia Abreu).
A próxima safra, ora em fase de plantio, é promissora em termos de área e uso de tecnologia. Os carros-chefes soja e milho se beneficiam do câmbio para vender bem e mantiveram os custos controlados, principalmente com a compra antecipada de insumos na levada da queda do dólar em relação ao início do ano.
Dessa forma, o vento que bate aqui nas palmeiras, não é o mesmo que bate lá em plátanos e bordos.
Se aqui está melhor hoje, amanhã não estará, a menos que o Brasil se defenda em forma nacionalista de aquisição de tecnologia, já sugeridas em várias colunas, embora pouco acreditadas.
Não volto ao assunto tão logo.
Publicado em 27/09/2016 em Jornal GGN.
FONTE: Carta Capital