Artigo

Gilmar Mendes contra cassação de Dilma

Data da publicação: 13/06/2017

O judiciário, grande protagonista de toda a farsa que envolve o Brasil de hoje, começa a pagar pelo uso classista do direito. A mídia, como demonstram seus resultados financeiros, já entrou em crise. E as sentenças ficam enlouquecidas. Hoje GM absolve Dilma, amanhã, quem sabe, condena Sergio Moro ou, se for realmente um agente estrangeiro, protegido pelo império colonial, um de seus Dallangnois.

Concluído o voto do Ministro Gilmar Mendes (GM), meu primeiro pensamento foi para Jô Soares exclamando: chose de loque!, em seu programa humorístico. Depois, ainda no departamento gargalhada, pensar no autor do voto liberador, em casa, à noite, com sua bebida preferida, contorcendo-se de rir pelo seu desempenho teatral – e se não fosse teatral por que ocupariam dele as redes de televisão? – pronunciando-se contra a cassação da chapa Dilma-Temer. E recordem que o processo só chegou até este julgamento pelo pessoal empenho de GM. E, até o mundo mineral (obrigado Mino Carta) sabe que o Ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF) é, no mínimo, um opositor político do Partido dos Trabalhadores (PT).

Mas neste mesmo julgamento foram contestados atos da Operação Lava Jato (OLJ). O próprio GM, em declarações à imprensa, já criticou algumas vezes as operações e decisões do juiz Sergio Moro. Estaríamos todos loucos?

Meus caros leitores, façamos uma cronologia comentada dos fatos que ocorrem no Brasil desde a primeira eleição de Lula.

Primeiro faço uma reflexão sobre as emoções que nos acodem diante de certos eventos e que, posteriormente, na calma da razão percebemos inadequadas. Tive há pouco em mãos, de estadunidense já idoso que participou ativamente da política após os anos 1950, suas memórias, que incluem as reações dos Estados Unidos da América (EUA) com a Revolução Cubana. Recordemos que o Presidente era Eisenhower; em sua equipe de governo havia representantes das grandes corporações que, entre outros feitos, forçaram, contra a própria vontade de Eisenhower (apud Kermit Roosevelt), a intervenção no Irã (pedida por Churchill). Um dos primeiros atos de Fidel foi promover a nacionalização dos empreendimentos mais relevantes para a economia cubana, afetando diretamente esta entourage presidencial. Relata nosso memorialista que os EUA hesitaram no rompimento das relações com Cuba. Mas a proximidade da mudança de governo para um democrata e, em consequência, a formação de novo círculo presidencial, levaram ao 03 de janeiro de 1961. Kennedy assumiu em 20 de janeiro de 1961. Como poderia ter sido outra a história sem a pressão deste pequeno grupo, com interesses meramente financeiros!

A eleição de Lula com o compromisso, efetivamente cumprido, de respeitar o modelo neoliberal, implantado após a queda do Presidente Geisel e aprofundado nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso (FHC), gerou um acirramento pela burguesia brasileira e pela mídia, que a forma intelectualmente, da luta de classes. E pelo protagonismo do poder judiciário – dado na Constituição de 1988, além de ser um poder sem voto e constituído, na quase totalidade, por esta burguesia – foi na justiça que se deu o combate a Lula e ao PT.

Lula assume em 1º de janeiro de 2003, o Mensalão do PT explode em 14/05/2005. Foi o único mensalão que ocupou as redes de televisão, por período nunca visto para um julgamento, e concluiu com diversas condenações. Os mensalões do PSDB (cronologicamente anterior) e do DEM morreram por decurso de prazo e desinteresse do judiciário e da mídia.

Para se conseguir as condenações, os Ministros do STF ocultaram provas, importaram teoria jurídica, com entendimento diferente de seu próprio autor, e colocaram a população a reagir como numa partida esportiva, onde você se coloca contra ou a favor de um time. Jamais foi levado ao povo que o julgamento não é um jogo; é o sistema garantidor de uma sociedade e, quando ele falha ou fica desacreditado, tudo pode ser possível e a sociedade cai, inevitavelmente, na lei da selva – do mais forte ou do mais astuto – nunca na do direito.

De lá para cá, a situação só piorou e atingiu o paroxismo com a Operação Lava Jato. Esta ainda está sub judice, pois começam a aparecer elementos que indicam ter sido forjada pelos interesses estratégicos e econômicos dos EUA. E, efetivamente, a grande contribuição, até agora, foi a redução do Produto Interno Bruto (PIB) e do nível de emprego e um enorme prejuízo financeiro e moral para o Brasil.

A OLJ começa em 2014, visando exclusivamente o PT, e prossegue agora com os réus que ela não queria ter. Cria-se então, com a cumplicidade e o total antipatriotismo da mídia – os grandes jornais, as revistas semanais, as redes de televisão – uma situação que o impeachment de Dilma Rousseff só agravou.

Eliminado o PT com a pecha da corrupção, são revelados delitos ainda mais graves de seus opositores e, o que é pior, sem o recurso das convicções, mas com a marca jurídica da prova. Começa então o desmonte de toda construção burguesa midiatico-jurídica da execração dos corruptos.

Afinal, um país de rentistas – formado na escravidão de séculos, onde toda riqueza produzida jamais alcançava seus efetivos produtores – com a elite cruel, de que nos falava Darcy Ribeiro (um dos maiores pensadores do Brasil), como imaginar que são os poucos petistas, e não toda a imensidão dos tradicionais políticos, os grandes corruptos? Aqueles que agiram sempre com a coisa pública como extensão de seus bens privados? Aqueles que nunca aceitaram um operário na Presidência?

O judiciário, grande protagonista de toda a farsa que envolve o Brasil de hoje, começa a pagar pelo uso classista do direito. A mídia, como demonstram seus resultados financeiros, já entrou em crise. E as sentenças ficam enlouquecidas. Hoje GM absolve Dilma, amanhã, quem sabe, condena Sergio Moro ou, se for realmente um agente estrangeiro, protegido pelo império colonial, um de seus Dallangnois.

Precisamos o mais rapidamente possível dar legitimidade ao Poder, o que só se obtém com o voto. Caso contrário, todos estarão fazendo o que deseja a banca, a nova ordem mundial: destruir o Estado Nação; acabar com o Estado Brasileiro.

Pedro Augusto Pinho
Avô, administrador aposentado

Publicado em 10/06/2017 em Brasil 247.