Tem sido relativamente comum uma avaliação (mais de senso comum) de que a redução do preço do barril do petróleo no mundo, seja ruim, igualmente, para todas as nações.
É evidente que não. O baixo preço é ruim para os países produtores, em especial para aqueles petrodependentes. O mesmo vale para as regiões intranacionais.
Onde há maior consumo que produção, o baixo preço do barril tende a fortalecer a economia. Em termos de nações este é o caso atual da Índia, Polônia, Espanha, Turquia, Coreia do Sul e outros.
Nestas nações, estima-se que esta fase de colapso do ciclo petro-econômico tem trazido ganhos no PIB em torno de 1%, na medida que gera superávit na balança comercial destes países que são consumidores da commodity de petróleo, bruto, ou sob a forma de derivados e combustíveis.
De outro lado, as nações exportadoras perdem na medida em que maior volume de petróleo exportado gera menores divisas, com a consequente perda de receitas e geração de déficit em seus orçamentos.
Juntos os 13 maiores exportadores de energia viram suas reservas cambiais descerem de US$ 1,26 trilhão no final de 2013, para US$ 967 bilhões, três anos depois, no final de 2016. Assim, Argélia ficou com menos 41% de reservas; Nigéria menos 38%; Rússia menos 35%; Angola menos 30% e Catar menos 29%, etc.
Dentre os exportadores, o mais atingido em volume total é a Arábia Saudita com déficit de 16,9% no PIB. Outros nações produtoras vivem crises decorrentes da redução destas receitas quanto maior é a sua dependência, como o caso da Nigéria, Venezuela, Emirados Árabes Unidos, etc.
Para o Brasil, considerando a produção e o consumo atual, não há muita alteração, a não ser pela redução dos investimentos, comum nesta época de baixo preço do barril. Há que se lamentar é que isto ocorra exatamente durante o início da exploração/produção da enorme reserva do pré-sal.
Além disso, a “coincidência” com crise econômica-política e a virada produzida na direção do desenvolvimento do Brasil, tem levado à reversão da política de conteúdo local (PCL) que assim freia uma imensa cadeia de fornecedores de bens, tecnologia, equipamentos e serviços para o setor.
Sob o ponto de vista dos negócios (stricto-sensu) do petróleo, a Petrobrás até que conseguiria ganhar vendendo no mercado interno derivados a um preço bem superior aos custos de extração do petróleo e seu beneficiamento.
A estatal só fazia isto porque até aqui era uma empresa integrada, do poço ao posto, atuando nas diferentes etapas da cadeia produtiva da exploração à distribuição dos derivados para consumo, conforme fluxograma abaixo.
O desmonte e o fatiamento da Petrobrás para elas ser negociada por partes, está eliminando esta possibilidade. Além disso, os atuais dirigentes da Petrobrás, liderados pelo Parente, ainda tem tornado as partes mais lucrativas da cadeia (refino e a distribuição) ociosas, em função de uma política de preços que tem levado às importações de derivados de petróleo pelas tradings.
Esta decisão levou a que as refinarias brasileiras passassem a trabalhar com 25% de ociosidade e agora em junho de 2017, o Brasil importa 550 mil barris por dia de derivados de petróleo, enquanto exporta petróleo cru. (Veja postagem aqui e aqui sobre desmonte do setor de refino no Brasil)
A Ásia é hoje uma importante base de refino de petróleo do mundo, aproximadamente 1/3 em termos de volume e quase metade de toda a movimentação financeira com esta atividade. A Ásia é também a parte do mundo onde mais cresce a demanda de petróleo e derivados do mundo. (Veja mapa abaixo)
A China hoje é um dos principais exportadores de derivados de petróleo. Em 2016, a China, sendo 2º maior importador (crescendo na razão aproximada de 5% ao ano, desde 2008) e consumidor mundial de petróleo – só atrás dos EUA – vendeu no mercado mundial quase 1 milhão de barris de petróleo refinado, faturando assim com o processamento industrial de refino.
As refinarias asiáticas são também uma das mais lucrativas, obtendo entre 15% e 20% do valor do preço do barril, com o beneficiamento e transformação em combustível. Um valor próximo a US$ 7 e que varia conforme a variação do preço do petróleo cru e da demanda mundial.
Assim, com a sobra da produção de derivados e o aumento dos seus estoques, alguns projetos de refinaria têm sido abandonados. Os países do Oriente Médio, os maiores exportadores de petróleo, com a baixa do preço do barril, desistiram de bancar alguns projetos industriais de refino na Ásia, embora Kuwait, Emirados Árabes e Abu Dhabi tivessem, antes, aproveitado a fase de boom do ciclo do petróleo para montar refinarias.
Ainda assim, alguns projetos de refino continuam sendo tocados na Ásia. Segundo a consultoria Energy Aspects seis países da Ásia devem adicionar 932 mil barris diários em capacidade de refino.
Muito disso se deve à expansão da índia ao aumento de demanda de combustíveis da índia que, segundo a consultoria, Wood Mackenzie deve crescer a uma média anual de 2,8% até 2025.
Vale dizer que a Índia já é o quarto maior mercado de petróleo do mundo e vem expandindo muito significativamente o seu parque de refino. Desde 2008, possui a refinaria de maior capacidade do mundo, a Relliance Industries que processa 580 mil barris por dia e montou e segue concluindo seis novas unidades de refino.
Lembrando que na Índia o petróleo é usado fundamentalmente no transporte, já que 70% da eletricidade vem do carvão, num país onde 260 milhões de indianos (mais que um Brasil inteiro) ainda não têm acesso à energia elétrica.
As unidades de refino instaladas mais recentemente, incorporam mais tecnologias e automação e assim, conseguem ter maior produtividade por barril processado, compensando, em boa parte, os custos de logística de transporte até os mercados consumidores.
É neste contexto que há que se lamentar – e muito – que o Brasil, pós-golpe político, tenha deixado de ter um projeto de desenvolvimento nacional que pudesse incorporar as oportunidades de ter e explorar a maior fronteira de exploração de petróleo descoberta no mundo, nesta última década (Pré-sal).
E junto a isto, simultaneamente, há que se lamentar que o Brasil esteja deixando de estruturar uma extensa cadeia produtiva nacional (derivada da Política de Conteúdo Local – PCL) para fornecimento de tecnologia, equipamentos e serviços para este setor de grande valor agregado e enorme capacidade para gerar emprego, renda, impostos e fazer a economia crescer reduzindo desigualdades.
Quando se abre mão de um projeto de Nação, apenas se deixa espaço para que setores de elite econômica nacional, possam auferir percentuais das rendas de projetos de players globais. Esta players se organizam de olho no novo ciclo petro-econômico. Assim, aqui vão se instalar para explorar nossas riquezas, usando suas tecnologias, exportando equipamentos e mão de obra, obtendo assim grandes lucros num país pós-colonizado e dependente.