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Por que, mesmo tendo sido dilapidada nos últimos anos, Petrobrás consegue manter elevada geração de caixa ?

Data da publicação: 15/03/2021

A Petrobrás sempre foi uma excepcional geradora de caixa. Se olharmos os balanços da companhia desde 2011 vamos verificar que a companhia jamais registrou uma geração operacional de caixa – GOC, inferior à US$ 25 bilhões, como vemos a seguir :

GOC US$ bilhões

   2011  2012  2013  2014 2015  2016  2017  2018  2019   
     33     27      26      27    26     26     28      26      26

Fonte : balanços publicados

Em 2020 a GOC da empresa alcançou US$ 28,9 bilhões e o presidente Roberto Castello Branco comentou em sua mensagem anual :

“Nosso FCO alcançou US$ 28,9 bilhões, o maior dos últimos 10 anos, mesmo comparando com o período de preços de petróleo por volta de US$ 100/bbl, mais que o dobro do preço médio do ano passado, de US$ 42/bbl. Quando nos comparamos com as grandes empresas globais de petróleo (majors), a Petrobras é a única que mostrou aumento em um ambiente tão dessa”
Obs : FCO = GOC

A informação não é verdadeira, pois em 2011, como já mostramos, mesmo com “subsídio” ao consumidor brasileiro, a GOC somou US$ 33 bilhões, apesar da taxa de cambio real/dólar media em 2011 de R$ 1.67 ter sido   bem inferior aos R$ 5,16  de 2020.

Um dos principais aspectos que diferencia a companhia de 2011 com a atual é que naquela época a política de preços não permitia a entrada de produtos importados por terceiros e as refinarias da Petrobrás trabalhavam com pouca ociosidade para atender nosso mercado de combustíveis,

COMPARATIVO DE DADOS PETROBRÁS

           Itens                              2011       2013       2020
Produção de derivados mbd        1.896      2.124       1.828
Fator utilização refinarias %          92           97          79
Venda de diesel + gas no Brasil   1.369      1.574       1.030
Lucro liquido US$ bilhões              20          11           1,14
Dividendos pagos  US$ bilhões       7           2,7         1,36*
Investimento US$ bilhões             43           45          8,3
Investimento em pesquisa            1,5         1,1          0,3

Fonte : balanços publicados
*Pela primeira vez na sua história Petrobrás pagou dividendos superiores ao lucro contábil.

Vejam a enorme falácia difundida pela mídia, principalmente Rede Globo, de que a empresa tinha problemas financeiros (estava quebrada) .

O presidente Roberto Castello Branco divulgou que a companhia teve perdas de US$ 40 bilhões devido ao “subsídio” concedido ao povo brasileiro, mas nunca mostrou a memória de cálculo destes números.

Na realidade todas estas inverdades foram criadas para justificar perante a população brasileira o desmonte da empresa com venda de ativos valiosos a preço de lesa-pátria e a manutenção de uma política de preços (PPI) absurda que prejudica a Petrobrás, o Brasil e seu povo, aproveitando o impacto das descobertas pela operação Lava Jato das falcatruas que vinham ocorrendo.

Ladrões tem de ser presos. A água suja tem de ser jogada fora, mas a criança não.

O fato é que os números mostram que apesar de tudo (corrupção ,subsídio etc) a Petrobrás jamais passou por qualquer problema financeiro.

No período 2011/2014, nós pagávamos pelos combustíveis preços abaixo dos internacionais e a Petrobrás mantinha forte geração de caixa, investia sempre mais de US$ 40 bilhões por ano, obtinha elevados lucros proporcionando bons dividendos aos acionistas.

Segundo estudo do INEEP a cada R$ 1 bilhão investidos pela Petrobrás são gerados entre 25 e 33 mil empregos no Brasil. Os investimentos da companhia puxavam o crescimento do PIB.

O país apresentava superávit’s e não deficit’s fiscais

É bom lembrar que as agências de classificação de risco, Standard&Poors, Fitch e Moody’s, tão referenciadas por Miriam Leitão e Sardenberg, pela primeira e única vez concederam à Petrobrás de 2007 até 2015 o ambicionado Grau de investimento (Investment Grade).

Infelizmente, as mentiras difundidas ganharam força e se transformaram em sólida verdade. A população brasileira que assistia atônita diariamente pela Rede Globo, uma tubulação jorrando dinheiro de corrupção da Petrobrás, passou a acreditar também nas palavras de Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg, de que a empresa estaria quebrada, mesmo sem nunca terem apresentado qualquer número que comprovassem suas afirmações.

Neste cenário, o povo brasileiro que sempre admirou a Petrobrás e os petroleiros, passou a ter um sentimento de desprezo pela companhia.
Miriam e Sardenberg venceram.

Assim, em 2015, no governo Dilma do PT , com a nomeação de Bendine para presidir a empresa, foi dado início ao plano de desmonte da Petrobrás com o objetivo de beneficiar capitais estrangeiros.

Na verdade Dilma já havia mostrado suas intenções desde 2010, com o leilão de Libra, mas foi Bendine que consolidou tudo lançando um Plano Estratégico que previa a venda de mais de US$ 55 bilhões de ativos da empresa , onde já estavam previstas as vendas de NTS, TAG etc.

Paralisou todos os investimentos e promoveu demissão em massa de funcionários próprios e terceirizados.

Hoje a empresa investe menos do que investia em 2005, antes da descoberta do pre-sal.

Foi com Bendine também que a idéia da nova política de preços, Preço de Paridade de Importação (PPI) se formou.

Do final de 2014 , com a queda dos preços do petróleo,  até meados de 2016 a Petrobrás saiu do “subsidio” para passar a cobrar no mercado interno preços acima dos internacionais.

Em alguns períodos o preço no mercado interno ficou exageradamente superior ao internacional.

Isto não passou despercebido aos importadores que passaram a se aproveitar da oportunidade.

No início do segundo semestre de 2016 o então gerente de refino da Petrobras, Gerson de Souza, informava que importadores já haviam tomado cerca de 18% do mercado da Petrobrás.

No entanto, o maior mal cometido pela administração petista contra a Petrobrás foi , mesmo tendo todos os números e sabendo da verdade, não tê-la defendido da campanha injuriosa promovida pela rede Globo, no final de 2015 inicio de 2016.

Na última quinta-feira (11/03) em sua coluna, comentando o discurso do ex-Presidente Lula, Miriam Leitão afirmou :

“foi no governo do Partido dos Trabalhadores que houve o maior prejuízo da empresa, provocado exatamente pelo subsídio aos preços dos combustíveis, que ele voltou a defender ontem. Curioso que é exatamente essa política de preços controlados que Bolsonaro sonha em praticar na Petrobras”  

Na verdade curioso é que Mirriam Leitão mantém o mesmo discurso e tudo indica que a Rede Globo vai continuar com sua campanha em defesa do capital estrangeiro, mas, acredito que desta vez, a nova administração recentemente indicada, sob a direção do general Silva e Luna, vai dar as respostas que o PT nunca deu.

De qualquer forma vemos com clareza que o processo de desmonte da companhia teve inicio em 2015.

Existe uma forma simples de avaliar os efeitos do desmonte que é verificar a evolução da receita da empresa no período :

Receita Líquida de vendas US$ bilhões

2011  2012  2013  2014  2015  2016  2017  2018  2019  2020
 146   144    141    144     97     81      88      95      76     54

Fonte : balanços publicados

Notem que no período 2011/2014 a receita foi sempre superior a US$ 140 bilhões. De 2014 a 2020 houve uma queda de receita de US$ 90 bilhões, valor superior aos PIB de 90% dos países do mundo.

Esta receita perdida foi transferida para outros proprietários através da venda de campos de exploração em terra e no mar e ativos valiosos como a NTS, a TAG e a BR Distribuidora.

Sobre a venda da NTS vale a pena ler o artigo a seguir copiado, que mostra que não foi um negócio mas sim uma negociata :

https://aepet.org.br/w3/index.php/2017-03-29-20-29-03/cartas-da-aepet/item/5401-nova-transportadora-do-sudeste-nts-privatizacao-lesiva-e-reestatizacao

Mas a pergunta título desse artigo continua sem resposta. Como uma empresa com uma receita tão reduzida conseguiu alcançar uma GOC de US$ 28,9 bilhões ?

Se voltarmos a 2011 vamos verificar que o custo de extração médio da Petrobrás naquela época era de US$12,50/barril e o custo de extração com participação governamental de US$ 32,5/barril.

Em 2020 o custo médio de extração foi de US$ 5,20/barril e o custo de extração com participação governamental de US$ 15/barril.

A queda no custo de extração tem como base em primeiro lugar o fantástico desenvolvimento tecnológico efetivado pelos técnicos da empresa na área do pré-sal até 2015, período em que eram feitos elevados investimentos em pesquisa que trouxeram enorme retorno.

A Petrobrás recebeu por quatro vezes o principal premio da indústria mundial de petróleo (OTC) por desenvolvimento tecnológico. O último foi em fevereiro de 2020, pelo projeto do campo super gigante de Buzios (elaborado antes de 2015). A atual administração pouco divulgou sobre o assunto que é de extraordinária relevância para a nação brasileira.

Em segundo lugar pela fantástica produtividade dos campos do pré-sal brasileiro que chega a alcançar em media 40 mil barris diários por poço, o que surpreendeu até os mais otimistas dos geólogos.

O custo médio de extração da Petrobrás em 2020 foi de US$ 5,20, mas considerando apenas a área de pré-sal ele cai para US$ 2,50. Mesmo nível dos países árabes.  

Por outro lado a queda nos gastos governamentais é provocada principalmente pelo não pagamento de participação especial na produção dos campos da cessão onerosa.

Portanto, estes ganhos não tem relação como o desempenho dos atuais administradores.

Se hoje nós tivéssemos a mesma estrutura de custo de 2011, o GOC de 2020 não alcançaria US$ 15 bilhões.

Do mesmo modo podemos dizer que se não tivesse ocorrido o processo de desmonte da companhia, a GOC  hoje estaria superando a casa dos US$ 50 bilhões. Superior a todas as chamadas “majors” (Shell, Exxon, BP etc)

Esta perspectiva deve ter incomodado e aguçado o interesse internacional.

Aqui, mais uma vez, recorro à carta testamento de Getúlio Vargas:

“Quis criar liberdade nacional na potencialização de nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa a funcionar, a onda de agitação se avoluma……Não querem que o povo seja independente”  

Cláudio da Costa Oliveira
Economista da Petrobras aposentado   

        

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aepet.org.br