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Sobre a postura das entidades de representação diante do governo Lula: 2 descaminhos e 1 caminho

Data da publicação: 06/03/2024

Desde que ganharam as eleições o presidente Lula e o PT, desenvolve-se no seio das entidades de representação dos trabalhadores um rico debate: qual deve ser nossa posição diante deste novo cenário? Longe de haver apenas duas alternativas, há toda uma construção bem pensada que permite não cometermos erros banais. E quais seriam esses erros de postura? Podemos elencar, grosso modo, dois deles:

Em primeiro lugar, temos observado setores movidos por um certo deslumbramento, uma convicção ilusória de que este é o nosso governo. O governo Lula é um governo de composição, com amplos setores conservadores e até liberais o compondo. Alega-se que esta amplitude foi uma necessidade histórica incontornável, alegação da qual discordamos, mas não é este o debate que queremos desenvolver aqui. Queremos apenas partir do fato de que tal composição ampla torna o governo contraditório, avançando muito timidamente por um lado, mas freando iniciativas mais avançadas ou mesmo movendo-se por vezes no sentido do atraso. Tanto assim que, até agora, apesar de algumas medidas de alívio e melhoria para os trabalhadores, não houve qualquer mudança mais profunda. Por exemplo, não foi consumada nenhuma reestatização, não se alteraram as diretrizes macroeconômicas (o arcabouço fiscal vai na mesma linha da PEC da morte), e a extrema direita, fascista ou ultraliberal, continua muito à vontade dentro das estatais e das ditas instituições democráticas. Para esse grupo, a conjuntura (que para muitos se confunde com a famigerada correlação de forças dentro do congresso) adquire um teor de cristalização, e qualquer movimentação em direção a alterá-la no curto e médio prazo é vista como ineficaz ou até mesmo prejudicial para o conjunto da classe trabalhadora. As eleições são vistas como única maneira de atuar na política. No mais, o conselho para a classe trabalhadora é ficar em casa, não enfrentar o fáscio-liberalismo nas ruas e se apegar com o título eleitoral como se ele fosse um amuleto mágico.

A segunda posição errônea é uma inversão mecânica desse primeiro vetor. Uma postura de oposição cega e sistemática. Um entrincheiramento estéril e desagregador, que opta por atirar pedras constantemente sem considerar que a conjuntura atual não é mais a mesma de 2003. Ou seja, há um ator político importante: uma extrema-direita viva, influente e organizada, haja vista a demonstração de força do ato da Paulista com dezenas de milhares de pessoas. Se para o primeiro grupo a correlação de forças é intransponível, para esse, ela é inexistente. Basta que estejamos alinhados aos princípios certos, que por pura força de vontade, teremos êxito.

Ambas as posições, por mais imiscíveis que pareçam, desembocam na mesma resultante: o Imobilismo. Seja pela conciliação de classes que delega a um herói o dever de nos salvar, seja pelo sectarismo que nos condena a falarmos somente aos convertidos que comungam de nossa fé.

A posição que defendemos aqui e em nossa práxis política é uma de real independência de classe, balizada pelas condições materiais imediatas, mas sem perder de vista o futuro que queremos construir. Atribuímo-nos a duríssima missão de construir os passos que nos guiarão a esse futuro. Criticando sempre que necessário. Avançando sempre que possível.

A frente ampla, que foi construída como uma redução de danos diante da tragédia genocida encabeçada pelo fascismo liberal brasileiro, não nos entregará por si só uma Petrobrás Estatal, combustível a preços justos e desenvolvimento econômico e tecnológico. Por outro lado, negar a urgência de se combater o fascismo que se espraia usando como veículo o ultraliberalismo econômico e social, é apostar com a vida dos trabalhadores. É necessário humildade para encarar nossas próprias limitações, e o quanto antes começar a construir uma conjuntura na qual os trabalhadores imponham um programa de desenvolvimento para o País. É preciso hoje ir às ruas e mostrar à extrema direita que quem passa 6 horas por dia no transporte público para trabalhar 10 horas e levar o sustento da família não tem medo de covardes que se escondem atrás dos símbolos nacionais para entregar o país às forças imperialistas. Mas é preciso também que os trabalhadores tenham um projeto de Petrobrás e um projeto de país, que aponte por onde é a saída desse lamaçal de miséria liberal no qual nosso povo está afundado até o pescoço. Para isso é imprescindível que os trabalhadores das diversas categorias se encontrem, se reúnam em um mesmo fórum para que unidos estabeleçamos nossa estratégia e avancemos até a tão sonhada emancipação da miséria que assola nosso povo por mais de 500 anos. Mas primeiro, com humildade, comecemos pela Petrobrás.

*Gustavo Marun é diretor da AEPET e da FNP
Wesley Brito é diretor da FNP e do Sindipetro RJ

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