A vertiginosa queda no preço internacional do petróleo no último ano e meio, de US$ 100 o barril para US$ 30, ainda é incompreendida por muitos e leva a análises precipitadas, previsões equivocadas e até mesmo alarmismo. No caso da Petrobrás, por exemplo, os efeitos dos baixos preços são usados como um dos argumentos para mudar a Lei da Partilha, tirando da empresa o estratégico posto de operadora única do pré-sal, numa clara leitura imediatista de um cenário complexo no mundo do petróleo.
Segundo o presidente da AEPET, Felipe Coutinho, os custos de exploração e produção de petróleo crescem constantemente, levando a indústria petroleira – e não apenas a Petrobrás, a se endividar a níveis sem precedentes. E a forte queda nas cotações não impede que recessão ou estagnação na economia mundial.
“O fim do petróleo barato de se produzir é o responsável por este fato novo, onde o preço não funciona nem para produtores nem para consumidores. Ou atende aos primeiros, ou serve aos últimos, ou pior, está ruim para os dois”, argumenta Coutinho.
Além da questão do custo de produção, a geopolítica do petróleo reúne personagens que buscam o protagonismo a qualquer preço e que dispõem de um arsenal persuasório composto tanto pelo poderio bélico, como financeiro. Os EUA, que deixaram a posição de maior importador mundial para o de maior produtor mundial, graças ao shale gas, tem na Arábia Saudita –segundo maior produtor – seu títere principal dentro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Com um baixíssimo custo de produção, estimado entre US$ 5 e US$ 8 o barril, a Arábia Saudita é capaz de manipular o mercado, principalmente para prejudicar seus vizinhos e inimigos Irã e Iraque. Os interesses dos EUA ainda querem afetar os países fora do seu eixo de influência (Rússia, Venezuela, Nigéria Irã e até mesmo o Brasil).
Os analistas são unânimes em afirmar que a queda no preço do petróleo é artificial. Entretanto, falta consenso sobre quais são as forças econômicas que estão coordenando a derrubada e o por quê. Mas está longe de acabar. Embora os preços já comecem a oscilar positivamente, a recuperação de um patamar em torno de US$ 60 a US$ 70 por barril não é vislumbrada antes de 2017.
Segundo o professor Georgio de Tomi, chefe do Departamento de Engenharia de Minas e Petróleo (PMI) da Escola Politécnica (POLI) da Universidade de São Paulo (USP), tanto o shale gas como o pré-sal motivam a queda nas cotações por serem duas reservas consideráveis. Para ele, há fortes interesses em desmotivar o desenvolvimento destas reservas.
“Os Estados Unidos dispõem de mecanismos de proteção, de modo que o dinheiro já investido e a tecnologia já desenvolvida devem ser suficientes para continuar a produção, mesmo que em ritmo mais lento do que previsto inicialmente. O fracking (técnica para extração) funciona, as reservas são abundantes e não vão sair do lugar. A lógica no pré-sal é a mesma, mas a Petrobrás precisa vencer a crise política e a cadeia de valor precisa sobreviver ao desmanche provocado pela frustração dos investimentos”, ressalva o professor.
A Agência Internacional de Energia, em seu último relatório, aponta o excesso de produção, da ordem de 2 milhões de barris dia, como principal causa das baixas cotações. Mas sinaliza que está situação irá se reverter a partir do ano que vem.
Mas para isto é importante acompanhar o consumo na China (mais de 6 milhões de barris dia) e na índia (3 milhões de barris dia). Se estas duas economias emergentes recuarem, o cenário continua desalentador para os produtores. Até porque a Europa segue com seu consumo estagnado nos últimos dez anos.
Diante destes cenários incertos, é previsível que a Petrobrás refaça seus planos de negócio. É fundamental adequar os investimentos no pré-sal à realidade do mercado mundial e das necessidades do país. O que é inadmissível é utilizar-se de dados tão pouco confiáveis para retirar da Petrobrás o protagonismo na exploração das reservas brasileiras. É falácia o discurso de que a Petrobrás atrasa o desenvolvimento do pré-sal. Em menos de oito anos, a empresa conseguiu fazer o pré-sal responsável por um terço da produção nacional de petróleo. E ainda não teve início a produção no Bloco de Libra, o primeiro do regime de partilha.
Se a Petrobrás enfrenta problemas financeiros, o mesmo ocorre com as demais petroleiras internacionais. A diferença é que, com o pré-sal, a Petrobrás tem reservas provadas. Enquanto que as outras enfrentam declínio de produção e sem novas reservas. Por isso, a cobiça internacional sobre o pré-sal.