O diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, Guilherme Estrella, foi o homenageado do concorrido ‘Ato em Defesa da Engenharia e da Empresa Genuinamente Nacional’, realizado no dia 03/08/10, no auditório do Clube de Engenharia, Centro, Rio de Janeiro. Estrella agradeceu ao presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian, ao diretor de Comunicações da AEPET, Roldão Fernandes, ao presidente do CREA-RJ, Agostinho Guerreiro, pela organização do evento em prol da engenharia e da empresa nacionais.
O geólogo Estrella agradeceu, também, a todos os presentes, especialmente aos técnicos da Petrobrás, o deputado estadual Paulo Ramos, os deputados federais Alessandro Molon, Luiz Alberto, a deputada Jandira Feghalli, ao presidente licenciado da AEPET Fernando Leite Siqueira, entre outros. ‘Para mim, hoje é um dia certamente muito especial’, disse Guilherme Estrella.
Estrella disse, ainda, que o Clube de Engenharia, pela sua tradição em defesa dos interesses nacionais, da engenharia brasileira, da inteligência brasileira, honra certamente aquele que reconhece de alguma forma a sua atuação.
Para ele, o que, em suma, se discutiu naquele evento é que ‘nós estamos tratando, na verdade, não é de ciência e tecnologia, mas nós estamos tratando é de soberania nacional’. Discorreu sobre alguns eventos que demonstram uma tentativa de algumas nações hegemônicas em tentar frear o avanço do Brasil na geopolítica internacional, bem como no desenvolvimento do Pré-Sal.
Estrella concluiu que a sociedade brasileira terá que optar se deseja que o País seja soberano ou seja submisso aos interesses estrangeiros. O Pré-Sal, destacou, está proporcionando ao Brasil uma oportunidade de ouro de se tornar um país soberano, desenvolvido e com justiça social.
Principais trechos do discurso de Guilherme Estrella
Eu tenho dito que recebo esta homenagem com muita humildade. Um homem da minha idade não pode se dá ao luxo de não reconhecer que tudo que a gente faz na vida não é só de uma pessoa, de um profissional, mas resultado do trabalho de uma equipe, seja a família, a equipe com a qual trabalhamos em nossos empregos.
Então, recebo esta homenagem com muita humildade e, certamente, considero esse reconhecimento um reconhecimento às todas as equipes com as quais eu tive (e tenho) a honra de trabalhar (…) e cujos ideais por um Brasil melhor eu também participo.
Quero cumprimentar o meu amigo de longa data, o Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, presidente da Eletronuclear. Me lembro de quando nos conhecemos, no momento em que ele estava enfrentando os problemas do projeto nuclear brasileiro, e nós do CENPES trocando experiências…
Muito já foi dito, mas acredito que o Brasil está passando um período de ouro. O Brasil se prepara e tem as condições, de toda ordem, para se transformar, não mais como coadjuvante da geopolítica internacional, mas agora temos a oportunidade de efetivamente sermos os protagonistas do cenário geopolítico internacional.
Certamente, a descoberta do Pré-Sal veio se juntar a essa conjuntura extremamente positiva que o Brasil vive, de alguns anos pra cá, quando nós passamos uma ou duas décadas obscuras, das trevas, de intenções de jogar o Brasil num papel secundário.
O Brasil até pelas suas características de país continental, mas bastante diferente de outros países de extensão continental, é um país que fala a mesma língua. É uma obra da colonização portuguesa, por mais deplorável que seja uma obra colonizadora, mas os portugueses deixaram o Brasil falando a mesma língua, do Oiapoque ao Chuí.
A nossa democracia, na minha opinião, ainda não é uma democracia plena. Mas é um país do que se chama de ‘estado democrático de direito’. É um país que tem sol, as maiores extensões de terras do planeta, tem as maiores reservas de água potável do mundo – Aquífero Guarani, entre outros. O Brasil é um país que tem um povo efetivamente extraordinário. É um povo solidário, não vive com intolerâncias, um povo amante da vida, extremamente trabalhador.
Então, temos que aproveitar essa grande oportunidade de atingirmos outro patamar (qualidade) de vida para o nosso povo em geral, nossa cidadania.
Esse século, que considero o século da economia do conhecimento. Aí eu me pergunto, quando eu ouvi essa expressão algum tempo atrás, mas conhecimento sempre foi um diferencial entre as nações. Conhecimento sempre foi um fator de preponderância de nações, sociedades, entre outros.
Mas nós estamos numa fase em que a informação é generalizada. E o conhecimento se transforma num fator essencial para que a sociedade e países como o nosso efetivamente atinjamos níveis de desenvolvimento sustentável, e não somente de crescimento.
A oportunidade, por exemplo, que o Pré-Sal oferece à indústria brasileira é excepcional. Não será possível que na escala que nós oferecemos de necessidade de suprimento de bens e serviços (só para falar na Petrobrás), nos próximos 30 anos não será aceitável que nós cheguemos (20 ou 30 anos) na mesma situação em que nos encontramos. O que pode ser uma grande oportunidade, pode também ser uma ameaça.
Digo isto, pois, como o Almirante Othon Falou, a tecnologia, hoje, é intrínseca ao próprio conceito de desenvolvimento nacional. Ou seja, é necessário que haja uma disposição da sociedade brasileira de efetivamente assegurar o desenvolvimento tecnológico nacional. Isto não se fará com uma empresa estrangeira.
Nesse sentido, eu considero extremamente importante – eu compareci a uma reunião, na segunda-feira retrasada, em que o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde se encontrava o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, convocou uma reunião na qual compareceram vários ministros [Casa Civil, Minas e Energia, Indústria e Comércio, Planejamento, Fazenda, bem como presidentes de empresas estatais]. Na oportunidade foram apresentados dois trabalhos: o primeiro trabalho foi um retrato da situação atual da pesquisa, desenvolvimento e engenharia no Brasil.
Nesta oportunidade, pela primeira vez no Brasil, para usar uma expressão popular, se levanta a bola para a empresa genuinamente brasileira, com respeito ao programa da Petrobrás de desenvolvimento (…)
O IPEA preparou um estudo que desenvolveu no último ano, que demonstrou que era necessário se aproveitar a oportunidade do Pré-Sal e criar uma política de desenvolvimento da empresa genuinamente brasileira.
Como eu disse, a reunião foi convocada pelo próprio presidente da República. Isso significa que o presidente já abriu para a discussão sobre esse assunto. E essa é a primeira reunião de uma série que teremos.
Então, há possibilidade de perspectivas para que esse assunto seja, efetivamente, tratado pelo governo cuja atuação depende fundamentalmente das políticas de criação e apoio à empresa nacional.
A proposto do IPEA é extremamente arrojada. (…) A empresa genuinamente brasileira vai garantir, no final das contas, que a inteligência e a engenharia brasileiras sejam acopladas ao atual estágio de desenvolvimento nacional.
Tão importante quanto isso foi a palestra do presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Ele apresentou alguns ‘slides’, que dentre eles apresentou os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de engenharia – eu o Almirante Othon somos de uma geração em que esses conjuntos de atividades de desenvolvimento e pesquisa de engenharia é o que significava a tecnologia. Todos nós sabemos que o governo anterior fechou a área de engenharia básica do CENPES. Então, hoje, o conceito que temos de engenharia básica é fundamental, ele é bom, ele é consistente.
Então, o Luciano Coutinho apresentou um gráfico que demonstrava o percentual de investimentos em ciência, em pesquisa e desenvolvimento de engenharia. Viu-se que o Brasil, em termos de investimentos, está próximo de outros países, como a Alemanha. (…)
A diferença entre o que as empresas investem no Brasil e no exterior é uma coisa extraordinária, cem vezes se investe no Brasil. E é claro que tem que ser isso mesmo. Por que onde investe uma empresa multinacional alemã? É na Alemanha. Onde investe em pesquisa e desenvolvimento a Toyota do Brasil, a Honda do Brasil, a Mitshubshi do Brasil? No Brasil? Não. É no Japão. Onde é que investe a Bosh do Brasil? Onde investe o complexo farmacêutico instalado, no Brasil, em pesquisa e desenvolvimento? É no exterior. É nas suas sedes, nas suas matrizes. Então, é claro que os investimentos da empresa privada, no Brasil, devem ser pequenos.
Então, esse é o grande salto que nós devemos dar: termos políticas governamentais que efetivamente financie e apoie a empresa genuinamente nacional. Capital brasileiro deve ser investido, em pesquisa e desenvolvimento, no Brasil.
Então, o que nós estamos tratando, na verdade, não é de ciência e tecnologia, mas nós estamos tratando é de soberania nacional. Essa é a questão que estamos tratando.
Só para citar um fato corriqueiro, que todos nós conhecemos. A Embraer não está podendo vender os aviões Super-Tucanos para a Venezuela, pois o fabricante norte-americano de um item tecnológico do Super-Tucano que não permite. Assim, não há desenvolvimento. Esse é um crescimento, mas subalterno, subordinado a outros interesses que não são brasileiros. A Embraer é uma empresa brasileira, mas está limitada pelos fornecedores norte-americanos, que limitam (em contratos) o fornecimento de itens para os aviões a serem vendidos para a Venezuela. Isso não é soberania.
Outra questão, só para terminar. As notícias que saem no dia a dia sobre petróleo, o pré-sal e agora sobre este desastre no Golfo do México, alegam que o Brasil não pode produzir o pré-sal, pois não há segurança nas explorações, entre outras. Esse desastre no Golfo do México não tem nada a ver com águas profundas. As decisões que foram tomadas é que elevaram ao risco da operação.
Numa notícia, por exemplo, a manchete não tinha nada a ver com o conteúdo. Dizia o primeiro parágrafo: ‘Um jornalista inglês, do The Guardian, de Londres, criticou a Agência de Fomento à exportação ao Reino Unido [um órgão oficial do governo, de sua Majestade britânica] por financiar a Rolls Royce para fornecer turbinas para plataformas de produção da Petrobrás’.
Está aí! É aí é que começam a surgir essas dimensões em função do Brasil ao, efetivamente, se tornar um país soberano, do ponto de vista de centros de pesquisas, desenvolvimento tecnológico e da engenharia, faz surgir o seu papel de protagonista (efetivo) na geopolítica internacional.
Então é isso. As coisas começam a pipocar dentro de um contexto muito amplo, de uma pressão internacional para que nós não tenhamos o pré-sal produzindo e não atinjamos níveis soberanos de desenvolvimento. Mas esta é a questão que se põe, agora, para que a sociedade brasileira discuta – e até escolher nas próximas eleições – a continuidade desse projeto brasileiro que este governo encampou, de se tirar a cangalha do ‘complexo de vira-lata’ ou se vai para um projeto de país subalterno, e que se submeta aos interesses estrangeiros.