No último dia 31 de maio este blog publicou aqui um texto que teve grande repercussão e foi replicado por vários sites e outros blogs: “Desmonte na Petrobrás atinge setor de refino. Brasil exporta petróleo cru e passa a importar cada vez mais combustíveis refinados“.
Ontem (20), a Folha de São Paulo publicou uma matéria similar, confirmando os dados e parte de nossa interpretação, sobre o fato do setor de refino de petróleo estar sendo reduzido por ação da diretoria da Petrobrás e que esta diferença significa que o país está exportando óleo cru e importando mais derivados: “Importação cresce e produção das refinarias nacionais cai a pior nível“.
Para termos uma ideia do volume que vem deixando de ser refinado no Brasil é só observar a capacidade de refino no Brasil de 2,397 milhões de barris por dia, em 2015, segundo a ANP.
Sobre a produção nacional de petróleo, em abril, segundo a ANP, era de 2,5 milhões de barris por dia. Já o petróleo processado nos quatro primeiros meses do ano em nossas nas refinarias teve um volume de 221,4 milhões de barris, equivalente a uma média diária de aproximadamente 1,845 milhões de barris por dia.
Desta forma é possível dizer que com a capacidade instalada que possui o Brasil, ele deixou de processar cerca de 550 mil barris de petróleo por dia, considerando a diferença entre o que está sendo refinado e a capacidade instalada de refino.
Pela diferença entre 2,5 milhões bpd de produção e a atual capacidade instalada o país teria uma sobra que poderia ser exportada de outros 100 mil barris por dia de petróleo.
O Brasil possui hoje 11 refinarias de maior porte e outras 6 refinarias de menor porte, conforme tabela publicada no Anuário 2015 da ANP que reproduzimos abaixo:
O caso é ainda mais grave na medida em que o aumento da produção de petróleo no pré-sal e redução do volume de produção na Bacia de Campos ampliou o percentual de petróleo leve para o qual foi projetada a maior parte de nossas refinarias.
A perda com esta estratégia é de bilhões que poderiam estar ajudando a abater parte da dívida da estatal, ao invés da venda a preço vil de seus principais ativos.
Assim, o Brasil está desperdiçando capacidade instalada de refino para vender óleo cru e importar derivados. Boa parte do mundo olha para este quadro sem acreditar ou entender. O fato é tão inacreditável que a postagem de maior do blog gerou questionamentos e entrevistas de publicações do exterior especializadas em energia e petróleo.
A confusão é tão grande que a FSP em sua versão online publicou na noite desta terça-feira matéria sobre o aumento também da importação de etanol, sendo o Brasil o maior produtor mundial de álcool: “Importação de álcool cresce 403% no 1º tri e preocupa agência reguladora“. O próprio diretor da ANP citado na matéria não sabe explicar as razões e diz que o tema precisa ser discutido.
Como já foi dito no texto anterior, nesta fase de colapso do ciclo petro-econômico com preços mais baixos do barril de petróleo, os maiores ganhos de uma petroleira que trabalha de forma integrada (do poço ao posto) é a venda dos derivados.
É evidente que a política de preços da Petrobrás criou confusão no mercado nacional que era praticamente seu, abrindo espaços para a importação de derivados que gera lucros a outras petroleiras e às tradings que atuam no mercado global desta commodity que desde o segundo semestre do ano passado aumentaram enormemente seus faturamentos no Brasil.
O fato tende a enfraquecer a atividade de refino da estatal que poderá ser vendido também em partes como vem sendo feito com outras atividades da petroleira. A integração de uma petroleira permite que a corporação se movimente melhor nas diferentes fases do ciclo do petróleo e da economia nacional e mundial.
Tudo isto tende a pressionar ainda mais a estatal que tende a reduzir seu tamanho e sua importância tanto para a economia quanto para o povo brasileiro. Volto a dizer que é lamentável enxergar este processo que pode ser revertido, conforme a orientação resultante da disputa pelo poder político.
Publicado em 21/06/2017 em Blog do Roberto de Moraes.