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Venda de ativos compromete finanças da Petrobrás

Data da publicação: 13/02/2017

Na contramão da sabedoria popular, onde “vale mais um pássaro na mão do que dois voando”, a Petrobrás apertou o botão da liquidação total e está numa forte onda de desinvestimentos. Alega que esta é a saída para seu alto endividamento. Mas há quem critique o caminho escolhido pela estatal. É o caso do presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), Felipe Coutinho. A entidade, por meio de carta enviada ao Tribunal de Contas da União, chamou a atenção para uma série de irregularidades e ilegalidades detectadas nos desinvestimentos da empresa, como a possibilidade de escolha de eventuais compradores, em processo sigiloso; e a falta de oportunidades iguais para os licitantes. Além disso, na opinião de Coutinho, o programa de desinvestimentos terá consequências negativas no futuro, comprometendo o fluxo de caixa da petroleira. “Quando você vende ativos rentáveis, acaba perdendo participação de mercado. Isso é uma política empresarial que merece críticas“, acrescentou.

Para exemplificar, o presidente da associação citou o recente caso da venda da participação em Guarani, uma das líderes do mercado brasileiro de açúcar e etanol. “A Petrobrás está se desfazendo de Guarani, depois de pesados investimentos, que a tornaram em um ativo moderno. E agora, quando os investimentos começariam a dar retorno, a estatal decide vendê-lo. Foi um péssimo negócio“, disse. Coutinho ainda revelou que a AEPET está desenvolvendo novos estudos sobre conteúdo local, gasodutos e a venda de ativos, que devem ser lançados nas próximas semanas.

A AEPET se posicionou contra a saída da Petrobrás da produção de biocombustíveis. Que perdas a empresa pode ter com esta estratégia?

Nós temos demonstrado que este é um setor estratégico e que tem importância relativa tanto na matriz brasileira, como na mundial. O etanol disputa mercado e, você pode observar, que nos últimos anos, apesar da crise, há um aumento de participação deste combustível. O setor de biocombustíveis vem se recuperando, e a saída da Petrobrás deste segmento vai deixar a companhia de fora de uma parte significante do mercado.

O biodiesel representa 8% do mercado de diesel brasileiro. Esse número crescerá para 10% até 2019. Observe que enquanto o consumo do diesel, por conta da crise, vem diminuindo, o consumo de biodiesel vem aumentando. A Petrobrás está se desfazendo de Guarani, depois de pesados investimentos, que a tornaram em um ativo moderno. Os canaviais também receberam investimentos. E agora, quando os investimentos começariam a dar retorno, a estatal decide vender o ativo. Foi um péssimo negócio.

Quais serão as consequências negativas com a venda de Guarani?

Agora, esse ativo está começando a gerar os frutos. Ela é uma usina muito moderna e competitiva, com uma alta capacidade. A Petrobrás tem repetido que os desinvestimentos são necessários para reduzir a dívida. Mas o que a AEPET demonstrou, por meio de um estudo, é que o desinvestimento não é necessário. Mostramos que, caso a Petrobrás não vendesse os ativos, seria possível manter as premissas do seu plano de negócios. Sua a alavancagem seria de 3,1 em 2018, enquanto que a meta da estatal é de 2,5.

Os 2,5 seriam alcançados em meados de 2021. Com isso, demonstramos que a justificativa da Petrobrás não se sustenta. A Petrobrás tem geração de caixa pujante e com a própria geração de caixa e planejamento de investimentos, sua dívida seria reduzida naturalmente sem vender os ativos.

E, na sua opinião, qual será o balanço final da política de desinvestimentos da Petrobrás?

O comprometimento de fluxo de caixa no futuro. Quando você vende ativos rentáveis, acaba perdendo participação de mercado. Isso é uma política empresarial que merece críticas.

Que outras alternativas seriam viáveis para a empresa equilibrar as contas?

Fazer um planejamento de investimentos, renegociar dívidas, diminuir a exposição ao dólar, procurar fontes de financiamento alternativas… Basicamente, as alternativas são soluções que dependem exclusivamente da Petrobrás. O problema da venda de ativos é que acaba ocorrendo uma perda de verticalização corporativa. A verticalização permite gerar receitas mesmo com a variação de preços relativos.

Com a Petrobrás focando em exploração e abandonando outras áreas, ela fica mais vulnerável aos preços relativos.

Como o senhor enxerga o movimento para flexibilização das regras de conteúdo local?

O conteúdo local é uma política pública. Os países que formularam essa política de forma competente, tiveram mais sucesso. Ela precisa ser corrigida, à medida da verificação dos resultados que se tem. A política de conteúdo local, no médio e longo prazos, precisa de gestão de aprimoramento. Acredito que é importante corrigi-la à medida em que os seus resultados sejam auferidos.

E qual será a consequência direta para empresas e trabalhadores nacionais a partir dessas mudanças?

De uma forma geral, você diminuir o compromisso de conteúdo local na indústria do petróleo significa diminuir a distribuição da renda petroleira. Poucos setores receberão os recursos e boa parte dessa renda vai ser transferida para o exterior. O que está em jogo é a disputa pela renda petroleira e sua renda para o exterior. Qualificando a mão de obra local e mantendo a renda petroleira no País, você está colaborando para a construção social do Brasil.

De que forma, em sua opinião, a Petrobrás pode contribuir na questão do conteúdo nacional?

A Petrobrás pode contribuir identificando os setores em que a indústria brasileira pode fornecer. Mapear as demandas, planejar o desenvolvimento e acompanhar os resultados para ter a garantia de que suas demandas serão asseguradas. A Petrobrás pode contribuir dessa forma, como empresa que conhece todas as tecnologias e que pode desenvolver os fornecedores, como sempre fez.

Quais serão os próximos passos da AEPET?

Nós produzimos documentos, com fatos e dados que contém com nossos pontos de vista. Demonstramos o potencial de cada ativo. A AEPET procura divulgar para a sociedade e até mesmo para as esferas de controle. Estamos fazendo novos trabalhos sobre conteúdo local, gasodutos e também sobre as mentiras repetidas pela Petrobrás para justificar a venda de ativos. A expectativa é de que sejam lançados nas próximas semanas. Todos eles servirão para defender o patrimônio da Petrobrás, fazendo com que a estatal esteja à serviço dos brasileiros.

FONTE: Petronotícias