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Brasil: no final de Temer?

Data da publicação: 26/05/2017
Autor(es): Michael Roberts

A notícia de que o presidente de direita Temer foi pego tentando subornar políticos para manterem silêncio sobre alegações de corrupção aumenta a probabilidade de que ele seja acusado pelo Congresso brasileiro este ano. Temer já é o presidente mais impopular da história democrática do Brasil. Ele só assumiu o cargo organizando um “golpe constitucional” que derrubou a presidente eleita de centro-esquerda Dilma Rousseff com base nas chamadas “violações orçamentárias”. Uma aliança de partidos a favor de medidas pró-capitalistas para cortar salários, benefícios sociais e pensões tomou conta do Congresso para apoiar Temer. Os mercados de ações e a moeda do Brasil cresceram e o capital internacional voltou a investir.

Mas agora todas essas “reformas” no interesse da lucratividade estão em perigo. Embora as políticas neoliberais adotadas pelos presidentes anteriores do Partido dos Trabalhadores, Lula e Dilma, tenham levado a uma perda de apoio entre a classe trabalhadora do Brasil e seu eventual fim, a aliança liderada por Temer nunca comandou o apoio da maioria e o último escândalo pode ver seu fim.

Onde isso deixará a economia brasileira e seu povo é difícil de julgar – espero que meus leitores brasileiros expliquem. Mas aqui posso acrescentar que o objetivo do governo Temer tem sido claro: aumentar a baixa lucratividade da indústria e do capital brasileiros reduzindo a parcela destinada ao trabalho; destruindo sindicatos e outras tendências de oposição; e recorrendo ao capital estrangeiro para obter apoio.

O grande motivo da queda do governo Dilma foi a economia. Após o colapso dos preços das commodities por volta de 2011, a economia brasileira mergulhou em uma recessão tardia, mas profunda. E ainda está nessa recessão econômica.

FIGURA 1

Mas Temer e o capital brasileiro, depois de expulsar Dilma, esperavam que uma recuperação geral na economia mundial se espalhasse para o Brasil. As coisas mudariam e os capacitariam a consolidar seu governo. E houve alguns sinais de tal recuperação. Os negócios brasileiros mostraram sinais de mais confiança.

FIGURA 2

Embora os preços das commodities não tenham retornado às alturas vertiginosas de antes de 2010, eles pelo menos reverteram um pouco de seu profundo colapso no período até o final de 2015. Além disso, no último ano, parece que o prognóstico de um colapso na China e uma desaceleração nos EUA não se materializou. E a China e os EUA são de longe os maiores mercados de exportação do Brasil.

FIGURA 3

Além disso, a recessão econômica levou a uma grande queda nas importações de bens estrangeiros. Então, a balança comercial do Brasil melhorou.

FIGURA 4

E após uma significativa “fuga de capital” de brasileiros ricos sob Dilma, o investimento estrangeiro começou a retornar ao Brasil, devido ao seu governo pró-capitalista.

FIGURA 5

Um dos resultados da depressão profunda foi a inflação em queda acentuada. Então, embora os salários da família brasileira média tenham estagnado ou até caído, em termos reais (após inflação) eles aumentaram, mesmo que apenas para o nível de dois anos atrás.

FIGURA 6

Mas o desemprego continua aumentando à medida que as empresas brasileiras cortam funcionários e os empregos no setor público são dizimados.

FIGURA 7

O futuro de médio prazo para a economia do Brasil não parece brilhante, apesar do otimismo recente dos economistas tradicionais e políticos pró-capitalistas no Brasil. Foi um boom de commodities que alimentou grande parte do crescimento do PIB do Brasil antes de 2010. A participação do país nas exportações globais de recursos não petrolíferos aumentou de 5% em 2002 para 9% em 2012. Hoje, os preços das commodities permanecem altos em comparação com suas médias históricas, mas o aumento excepcional na demanda e nos preços se estabilizou.

Ao mesmo tempo, tanto as famílias quanto as empresas continuaram sobrecarregadas com dívidas significativas. A dívida das famílias cresceu de 20% da renda em 2005 para 43% da renda em 2012, e altas taxas de juros reais (média de 145% em cartões de crédito) tornam isso um fardo pesado para os consumidores. Do lado do governo, as despesas federais aumentaram de 15,7% do PIB em 2002 para 18,9% em 2013, principalmente devido aos pagamentos de juros sobre a dívida. Como resultado, os impostos já subiram de 29% do PIB em 1995 para 36% em 2013, o nível mais alto entre os pares de mercados emergentes do Brasil. Como uma parcela do PIB, a dívida bruta do setor público do Brasil é menos de um terço da do Japão, mas seus custos de serviço da dívida são quase 15 vezes maiores.

Acima de tudo, há poucos sinais de que o capital brasileiro pode realmente desenvolver as forças produtivas da economia e de seu povo. As exportações de recursos e o consumo alimentado por crédito não se traduziram em maior investimento ou produtividade. Entre 2000 e 2011, a taxa geral de investimento do Brasil foi em média de 18% do PIB, abaixo daquela de outras economias em desenvolvimento, como o Chile (23%) ou o México (25%), e muito abaixo daquelas da China (42%) e da Índia (31%).

FIGURA 8

A produtividade do Brasil está quase estagnada desde 2000; hoje, é pouco mais da metade do nível alcançado no México.

FIGURA 9

De acordo com a McKinsey, consultora global de gestão, mais da metade da população brasileira permanece abaixo de uma renda mensal per capita de R$ 560. Cortar esse nível de pobreza para menos de 25% exigiria uma produtividade quatro vezes mais rápida que a taxa atual. E não há perspectiva disso sob o capitalismo no Brasil. Isso porque a lucratividade do capital brasileiro é baixa e continua baixa.

A lucratividade do setor capitalista dominante do Brasil estava em declínio secular, impondo pressão descendente contínua sobre o investimento e o crescimento. Claro, a derrubada dos regimes militares e o aumento dos preços das commodities reverteram a queda da lucratividade por um tempo. Mas a lucratividade agora ainda está bem abaixo de seus melhores anos no início dos anos 2000.

O gráfico abaixo mostra três medidas indexadas (1963=100) (M= Maito; Mar = Marquetti; P = mina com base nas tabelas da Penn World e poli = média suavizada).

FIGURA 10

Mesmo que Temer sobreviva, a elite governante do Brasil enfrenta uma tarefa difícil de impor controle sobre sua classe trabalhadora e cortar gastos públicos e salários, e assim atrair capital estrangeiro significativo. A elite governante tem mais probabilidade de fugir com seu capital a qualquer sinal de dificuldade. Então o capitalismo brasileiro ficará preso em um futuro de baixo crescimento e baixa lucratividade com paralisia política e econômica contínua. E isso sem uma nova recessão global surgindo no horizonte.

As imagens estão disponíveis no anexo em PDF.

Publicado em 20/05/2017 em The Next Recession. Original em inglês. Tradução automática do Google.


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