Defender a Petrobrás coincide, na maioria das situações, em defender o Brasil e a sociedade brasileira
A aprovação da lei da ficha limpa já é o começo de um processo de conscientização da nossa sociedade ocorrido, a bem da verdade, como uma concessão da mídia do capital. Os escroques que roubaram despudoradamente e nem tiveram preocupação de esconder o ato, confiantes na impunidade por experiência passada, foram surpreendidos por uma horda de íntegros e de “novos íntegros”. Estes últimos são aqueles que tiveram cuidado de esconder bem suas falcatruas ou deram sorte e, apesar dos seus passados pecaminosos, não foram flagrados.
Mas, o sistema está muito longe de ser perfeito. Existem os roubos legais dentro da nossa sociedade. São aqueles, cujos autores são até reverenciados e mostrados como exemplos de pessoas de sucesso. Têm empresários que, em um espaço mínimo de tempo, conseguem acumular fortunas incalculáveis, que os 50% mais pobres da nossa sociedade não conseguem ganhar em todas suas vidas úteis. Inclusive, fortunas acumuladas dentro da maior legalidade de leis injustas e contrárias aos interesses da sociedade. Não seriam estas fortunas, acumuladas desta forma, roubos? Aliás, Marx já se referiu a este tema como “acumulação primitiva do capital”.
Entretanto, os deslizes não são privilégios dos empresários. Nos entristece que políticos são assíduos frequentadores da galeria de entes danosos da sociedade, porque muitos deles são escolhidos por nós para serem nossos representantes e, no entanto, agem como nossos inimigos.
O deputado Henrique Alves e o senador Romero Jucá colocaram enxertos não negociados em aberto nos substitutivos que redigiram para a Câmara e o Senado, quando o projeto do contrato de partilha remetido pelo Executivo transitava por estas duas Casas do Congresso. Os citados contrabandos eram de igual teor e significavam o ressarcimento dos royalties pagos pelas empresas petrolíferas, com valor estimado pela Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET) de US$ 15 bilhões por ano.
Ainda não está garantido como ficará a nova lei após as votações, mas, se Alves e Jucá saírem vitoriosos, o Brasil será o primeiro país do mundo onde estas empresas não pagam royalties. Notar que o processo legislativo foi cumprido a risca e a maioria dos deputados e senadores aprovou os respectivos substitutivos. O “ficha limpa” não pega esses casos!
E por que eu sei sobre esse fato? Porque existe um grupo de abnegados que vivem fiscalizando o Congresso e o Executivo brasileiros em assuntos relativos a petróleo e outros que afetam diretamente a nossa sociedade. São eles Fernando Siqueira, Diomedes Cesário, Heitor Pereira (falecido), Sydney Reis (falecido), João Victor Campos, Pedro Carvalho, Ricardo Maranhão, Arthur Martins, Roldão Marques, Ricardo Latgé, Ruy Gesteira (falecido), Henrique Sotoma, Argemiro Pertence, Fernando Fortes, enfim, todos diretores e conselheiros, presentes e passados, da Associação.
No caso do presidente da AEPET, Fernando Siqueira, alem da análise, ele vai a Brasília mostrar a deputados e senadores de boa índole as suas descobertas e tem conseguido bons resultados.
Alguns dos leitores podem pensar: “Mas, eles são corporativos. Estão preocupados em defender a Petrobrás”. Primeiramente, defender a Petrobrás coincide, na maioria das situações, em defender o Brasil e a sociedade brasileira. Alem disso, em situações em que o interesse nacional se contrapõe ao interesse corporativo, pelo que conheço deles, estarão do lado da sociedade brasileira. Assim, estes são nossos verdadeiros heróis, bem diferentes dos trapalhões sem estofo, que um bufão ridículo da TV brasileira quer nos empurrar.
Paulo Metri é conselheiro da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros e sócio honorário da AEPET.
10/07/2010