É inexplicável a ignorância ou má-fé da mídia e instituições em elogiar o Presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, quando de sua merecida demissão, como se tivesse saneado e recuperado a Companhia. Deve ser porque ele foi coerente e quase cumpriu sua promessa de acabar com a Petrobrás.
Imagine o que aconteceria se em qualquer Empresa o Conselho de Administração e Diretoria vendessem a preços irrisório patrimônios rentáveis e geradores de riqueza, que eles não construíram, distribuindo-o resultado como lucro imediato, sem qualquer compromisso com a perenidade de sua lucratividade. Seriam execrados e não elogiados.
Começa que a Petrobrás nunca esteve quebrada, nem precisava ser saneada, como mentirosa e amplamente divulgado pela mídia. Claro que houve problemas de corrupção, que devem ser exemplarmente punidos, bem como o uso da empresa em programas de governo que beneficiavam a população, mas nada com o impacto que se fez crer. Qualquer diretoria idônea tem acesso a essas informações para verificar os fatos.
Em termos econômicos nada disso chega perto do descalabro iniciado pelo Presidente Pedro Parente no Governo Temer, com a venda a preços de liquidação de patrimônio rentável e produtor de riqueza, entregando o respectivo mercado cativo (que somos todos nós consumidores), para exploração por fundos e empresas privadas, normalmente estrangeiras.
Esses fatos foram muito acelerado na administração que ora se encerra, mostrando a que veio ao quando declarou que “o problema dos caminhoneiros não é problema da Petrobrás” e ao mesmo tempo se conceder rendimentos de R$ 250 mil mensais. Ou seja, o mercado não é problema dele e o objetivo é o máximo ganho imediato. A menos de especuladores financeiros, não creio que empresário ou investidor que se preze teria esse comportamento, pois sabem que seu sucesso depende essencialmente da satisfação do mercado consumidor.
A Petrobrás tem como finalidade o abastecimento nacional de combustíveis com qualidade, segurança e aos menores custos, pois disso depende tanto a eficiência de toda a nossa cadeia produtiva quanto a qualidade de vida da população e a da segurança nacional. Outra de suas funções, como Empresa Estatal, é de regulação para evitar o interesse privado abusivo nas situações de monopólio visando o melhor resultado para a sociedade.
Essa administração que está sendo substituída não fez nada disso, como pode ser visto a seguir.
Como apresentado abaixo, no período 2011 a 2015, em que se propalava que a Petrobrás estava quebrada, ela apresentou elevada capacidade de geração de receita, com significativos investimento, superior a US$ 40,0 bi/ano, que por sua vez começaram a produzir resultados em 2018. A dívida bruta, acusada de ser uma das causas da alegada falência, era elevada, mas perfeitamente compatível com o programa em andamento, único entre as petroleiras, para desenvolvimento da produção de petróleo e combustíveis. Nessa época pagávamos o preço do combustível abaixo do preço internacional e muito menor do que hoje.
No entanto, essas administrações ora enaltecidas, a partir de 2016, realizaram uma grande elevação de preços dos combustíveis ao adotar o PPI – Paridade de Preços de Importação, em que, com nosso menor poder aquisitivo, pagamos preços superiores aos praticados nos USA , propiciando sua importação em detrimento da produção nacional. Com isso a Petrobras teve que reduzir sua produção para 70% da capacidade, comprometendo sua saúde financeira e o balanço de pagamentos do País.
Além disso, a título de redução da dívida, entregaram, para capitalistas estrangeiros estatais e privados, reservas de petróleo e instalações produtivas e geradoras de caixa e riqueza, bem como o nosso mercado para ser explorado em caráter permanente, com prejuízo para todos os brasileiros.
Seguramente está se comprometendo deliberadamente a saúde e a sobrevivência da Companhia, evidenciados abaixo com a drástica redução em pessoal, e em pesquisas, que foram os grandes responsáveis, com reconhecimento mundial, pela inédita descoberta da jazida do Pré-Sal.
O baixo custo de extração e os investimentos permanentes em pessoal qualificado é que viabilizam o funcionamento permanente das instalações e da organização, garantindo seu futuro.
2011 2013 2019 2020
Gastos pesquisa US$ bi 1,5 1,1 0,3 0,5
Quantidade empregados mil 81,9 86,1 57,9 49,0
A redução de US$ 17,5/barril no custo de extração com participação governamental é devida à produtividade dos campos do pré-sal brasileiro ( as maiores do mundo) e ao desenvolvimento técnico para sua produção.
2011 2020
Geração Operacional de Caixa US$ bilhões 33,0 28,0
Custo de Extração CE US$/barril 12,5 5,2
CE com participação governo US$/barril 32,5 15,0
Além disso, na produção de petróleo da Cessão Onerosa não é paga participação especial ao Governo. Sem isto, a geração operacional de caixa, em 2020, cairia US$ 15 bilhões ficando em pífios US$ 13 bilhões coerente com a redução da receita líquida. Portanto este ganho nada tem com o desempenho da administração da companhia, como querem nos fazer entender.
Com esse descalabro todo, estarmos pagando um preço dos derivados desnecessariamente elevado, alienação de patrimônio e riquezas, comprometendo o futuro, a Petrobrás que sempre teve elevada lucratividade, pagando excelentes dividendos, atualmente apresenta resultados pífios
2011 2013 2019 2020
Lucro Líquido U$$ bilhões 20,0 11,0 10,0* 0,9
Dividendos e Juros US$ bi 12,0 9,3 1,3 1,4**
* Inclui resultado da venda da TAG – Transportadora Associada de Gás e BR Distribuidora
** Pela primeira vez a empresa pagou dividendo superior ao lucro
Os ganhos de produção e produtividade que estão sustentando a Companhia foram conseguidos graças aos maciços investimentos feitos até 2016 e que deveriam começar a produzir resultado a partir de 2018, mas estão sendo comprometidos como pode ser visto pela redução de lucro operacional, disfarçados por venda de ativos. E nada disso está sendo repassado para a cadeia produtiva nacional e aos brasileiros.
O resultado dessas “brilhantes” administrações é a brutal redução da receita líquida, baixíssimos níveis de investimento para produção de nossa riqueza de petróleo e de combustíveis, com baixo impacto na dívida, apesar da espoliação do consumidor pela artificial elevação no preço dos combustíveis.
Ou seja, todo o País e a Petrobras estão sendo prejudicados.
Alguns bons exemplos do tão decantado USA deveríamos adotar, como por exemplo, a proibição de exportar petróleo e derivados, e vender refinarias, como foi feito recentemente em que o Governo proibiu a venda de uma refinaria particular, já negociada, para a China.
Isso que está ocorrendo com a Petrobras é um exemplo do que é a administração de uma instituição que deve ser responsável pela infraestrutura do País estar com o enfoque de atender interesses privados nacionais e internacionais, e até os de Estados estrangeiros.
É importante explicitar que essas ações são responsabilidade exclusiva de Diretorias em ampla discordância com a finalidade estatal da Petrobras. Quando se diz que a Petrobras está tomando essas atitudes se denigre sua imagem, pois ela, como instituição de respeito, também está sendo mais uma vítima.
A Petrobras, com sua comprovada competência e eficiência, se constitui num grande diferencial comparativo do País para sua Autonomia e Soberania, para a sua cadeia produtiva industrial e geração de empregos de qualidade, para a qualidade de vida da população.
Se isso for perdido, a construção nacional de muitas décadas estará irresponsavelmente sendo jogada fora, e dificilmente conseguiremos repetir a façanha de termos chegado até aqui.
Espera-se que a próxima Administração não enverede pelo mesmo caminho adotado pela que está saindo.
Eng. Raul T. Bergmann
Anexos: texto e vídeo para aprofundar/ampliar entendimento desses fatos e conceitos
Petrobrás reage, mas Cláudio Oliveira reforça argumentos contra falácias do balanço de Castello Branco
Sylvio Massa – Programa Pensamento Crítico – O desmonte da Petrobrás
https://www.youtube.com/watch?v=aEYSUNm4hKg&ab_channel=Ielaufsc