Artigo

Ali Babá e os quatro vezes quarenta ladrões

Data da publicação: 03/12/2015

Eduardo Cunha, também conhecido como Ali Babá, se achava protegido de investigação judicial porque há outros 160 – ou seja, quatro vezes quarenta – parlamentares igualmente investigados no Congresso, e a Justiça nada faz contra eles. Assim, a Câmara se transformou por algumas semanas numa caverna onde bandidos públicos conhecidos, e notadamente seu chefe explícito porque comprou a eleição para muitos deputados, se homiziam em busca de proteção institucional.

Fiquei aliviado com a posição dos petistas no Conselho de Ética – há muitos deputados honrados no Parlamento – e nada surpreendido com a decisão de Cunha de aceitar a denúncia de impeachment contra a Presidenta Dilma. O país, este sim, teria que testemunhar a efetivação da chantagem com o uso do cargo maior da Câmara para acordar do sonho inocente de que temos instituições limpas. O sonho acabou. A Câmara, principal instituição republicana, revelou-se presidida por um chantagista, sem qualquer reação.

A pergunta que faço é como alguém como Cunha pode ter chegado à Presidência da Câmara. Não falo do que é por todos sabido, o fato de que comprou votos para outros a fim de ter “sua” bancada, mas do fato de que fez uma carreira parlamentar suja totalmente despercebida pelos ilustres magistrados do STM, entre os quais Gilmar Mendes, que é um impoluto ativista da campanha pelo impeachment. Que Justiça é essa? Que Justiça é essa que foi tão rápida para prender Delcídio e não julga os tais quatro vezes quarenta?

O cruzamento entre o processo contra Cunha e o de impeachment contra a Presidenta será uma excelente oportunidade para a depuração do Congresso. Saberemos quais são os mocinhos e quais são os bandidos no Parlamento. Será uma grande oportunidade para passar a limpo a política brasileira e possibilitar que o Executivo, finalmente, depois de um ano de paralisia do segundo mandato, comece a governar. Se a Presidenta for sábia, ela aproveitará essa oportunidade para virar a economia no rumo do crescimento e do pleno emprego. Nós vamos ajudar a mudar esse jogo com a criação em breve da “Aliança pelo Brasil”.

P.S. Devo confessar que, como brasileiro, tenho profundo constrangimento em escrever que a Câmara dos Deputados tem sido presidida por um bandido. Claro que, se é bandido, não tem honra. E se não tem honra, não vai sair de onde está por vontade própria. Espero que o Conselho de Ética da Câmara aja rápido para evitar a sangria da honestidade na vida pública do país por muito mais tempo.