O Editorial de O GLOBO desta sexta-feira, dia 3 de outubro (por coincidência, data de aniversário da Petrobrás) é um exemplo de que um veículo de comunicação com mais de quatro milhões de leitores pode ser erradamente utilizado para ser palanque eleitoral. O GLOBO se utiliza de seu editorial para ataques ao petismo, à própria Petrobrás e aos petroleiros, terminando o editorial com o conceito de que “pouco ou nada se sabe de reclamações contra esses virtuais assaltos aos fundos de pensão” e “mais uma vez, os fins justificam meios”.
É uma lástima. Até por que o periódico tem entre seus profissionais gente de gabarito que acompanha a empresa petroleira há anos. Ramona Ordoñez, Chico Otávio, Alexandre Rodrigues entre muitos outros profissionais do “jornalismo investigativo” global sabem, ou deveriam saber, da luta que tem sido palco a Petrobrás nos últimos 20 anos.
Desde antes dos Governos FHC, Lula e Dilma, os petroleiros têm resistido ferozmente à utilização da companhia como aparelho político. A “república do Paraná” – denominação que muitos de nós, petroleiros, damos aos gerentes da linhagem de Paulo Roberto Costa – atua na Petrobrás desde antes de FHC, com a permissão, conivência ou omissão de todos estes governos.
O petismo nunca conseguiu ter em suas fileiras quadros técnicos que pudessem assumir funções de destaque na companhia. Em função desta debilidade, e por falta de um projeto independente e estratégico para a Petrobrás, aceita e convive com os apadrinhados dos diversos partidos políticos coligados na holding e nas subsidiárias, como o atual presidente da Transpetro, Sérgio Machado. E expressando os mesmos métodos, o petismo nomeia os seus apadrinhados, se colocando em posição de vidraça também.
No caso de Pasadena, o jornal fingiu-se de morto durante quase dois anos, até o momento eleitoral. Chamado para participar de audiência pública do representante dos trabalhadores petroleiros no Conselho de Administração no final de 2012, O GLOBO não foi nem deu satisfação.
Os sindicatos petroleiros se dividiram, diante da omissão de seus principais dirigentes frente aos problemas enfrentados na companhia e, principalmente, diante do prosseguimento da retirada de direitos – em especial, os previdenciários – que foi implementada pelas gestões neoliberais petistas. O GLOBO jamais deu qualquer importância a esta tomada de posição por um setor majoritário dos petroleiros – só o Sindipetro-RJ reúne mais de 40 mil petroleiros em sua base sindical. Preferiu o periódico expor a entidade sindical em suas páginas policiais sob a falsa acusação de apoio a atos de vândalos nas manifestações sociais. E diga-se passagem: sem ouvir os acusados.
Ao longo dos últimos anos os petroleiros estão divididos nacionalmente. Criaram uma nova federação – a Federação Nacional dos Petroleiros, FNP – contra a governista FUP por causa da mudança radical na forma do Plano de Pensão. E disputam palmo a palmo as eleições sindicais e os espaços políticos como as representações na Petros e no Conselho de Administração da Companhia. A resistência é enorme e tem encontrado grande apoio dos trabalhadores. Embora uma parte dos trabalhadores ainda viva as ilusões com o petismo e cultive o medo (fundamentado) da privatização tucana, a maioria coloca em primeiro lugar a defesa da companhia e dos direitos dos trabalhadores.
Em relação à Petros, a questão fica ainda mais grave. Há 10 anos as contas anuais do Fundo de Pensão dos petroleiros não são aprovadas pelo Conselho fiscal nem pelos conselheiros representantes dos trabalhadores. O GLOBO sabia disto, como publicou em março deste ano reportagem a respeito do assunto, mas faz questão de ignorar este fato em seu editorial.
A única “solidariedade ideológica” que se consegue ver em tudo isto é a do periódico contra qualquer iniciativa dos trabalhadores. Sejam eles governistas ou de oposição. O GLOBO só vê e considera suas próprias e parciais “verdades”. Para O GLOBO, como se vê, mais uma vez, os fins justificam meios.